Caro Leitor,
Domingo (tarde)
Depois do almoço, a caminhada fez-se em direção à Ponte Carlos, novamente. O objetivo, desta vez, era experienciá-la em plena confusão dos turistas e vendedores. Mas antes, uma subida obrigatória a uma das torres que servem de abertura para a ponte. A informação recolhida parecia indicar que a vista de uma delas (Old Town Bridge Tower) era mais interessante. Não me arrependi de escolher apenas esta e confirmo que valeu a pena o bilhete (90 coroas). Encontrei a torre praticamente deserta - pouco passava do meio-dia - e quando cheguei lá em cima, depois de visitar os patamares inferiores e de mostrar o bilhete novamente, fiquei surpreendida por ser a única turista lá. As vistas para o rio Vltava e para a Ponte Carlos são fantásticas e a ponte proporciona uma vista de 360º deslumbrante - digna de postal. A Ponte Carlos abre-se em toda a sua glória.
Apesar de ser a Ponte Carlos a imagem dominante, há muito que ver de cá de cima: a parte velha da cidade, os seus telhados, a ilha Kampa, etc.Daqui se percebe, mais uma vez, a denominação "cidade das cem torres".
Não me apetecia sair dali. A calma lá em cima era contrabalançada pela agitação lá em baixo. Das conversas da multidão que passeava apenas sons indistintos escapavam e vinham repousar cá em cima. Por vezes, notas musicais voavam até à torre e perdiam-se no céu de Praga.
A solidão que experienciava cá em cima dava azo à introspeção e esta ditava que permanecesse ali até já não ser mais possível. Saí quando um turista mais estranho apareceu e embrenhei-me na multidão. No piso inferior encontra-se um museu com objetos encontrados no rio. Entre eles uma bilhete de identidade de um jovem português. E esta, hem?
Atravessamos novamente a ponte, desta vez repleta de gentes (turistas e vendedores) e descemos, antes do seu término, nas escadas à nossa direita. Rumamos em direção a Kampa, passeamos um pouco, e já quando estavamos a caminhar em direção ao museu Kafka deparamo-nos, para minha surpresa, com o Muro Lennon.
Era perfeitamente dispensável - já o sabia de antemão - e só seria procurado no caso de termos muito tempo - o que seria pouco provável. No entanto, como apareceu-nos no caminho, lá se tirou a foto da praxe, junto do Muro Lennon, que nada tem a ver com o emblemático John Lennon. Estava apinhado e era difícil encontrar uma parte do muro com uma mensagem mais significativa e apropriada ao nome que carrega. Depois de tirada a foto apercebi-me que tenho por cima de mim a cidade Istambul. I wonder what this could mean? Curiosidade: o muro pertence aos Cavaleiros de Malta.
Depois uma breve passagem pela ponte de onde se vê o moinho de água (Grand Priory Mill) e o duende que o guarda seguiu-se uma caminhada sem pressas pelas calmas ruas e ruelas de Kampa em direção ao Museu Franz Kafka.
Que pena já termos almoçado! Difícil resistir a Czech food cooked with love, ainda para mais num cenário como este (este restaurante tem uma grande varanda virada para o moinho e para o duende) Conseguimos encontrar Vinárna Čertovka, a rua mais estreita do mundo, sem estar naquele momento à procura dela. Acho que ia passar-nos despercebida. Em Praga temos que olhar em todas as direções e para todos os buraquinhos (nooks and crannies).
Seguiu-se o museu Franz Kafka, só o seu exterior, e mais para ver a escultura humorística onde 2 homens mecanizados urinam para um mapa da Republica Checa. De acordo com o The Guardian, podemos enviar uma mensagem para o número que se encontra perto da escultura e os mesmos homens escrevem-na com a ajuda dos seus pénis e da água que flui deles. Não, não cheguei a tentar - mas só mesmo porque não fazia ideia disso, claro.
Seguimos para a ponte Manésuv, para tirar fotos à ponte Carlos e depois de a atravessarmos caminhamos (300m) até Joseov, o bairro Judeu. Aqui esperamos 20 minutos na fila e adquirimos o bilhete que incluía a sinagoga Espanhola, Pinkas e Klausen , The Ceremonial Hall, o cemitério judeu e a Galeria Robert Guttmann pelo preço de 300 coroas mais 70 coroas para fotografar.
Regressamos à praça da cidade velha para presenciar o espetáculo do Orloj. Sabia de antemão que não seria nada de especial - gosto mais do de Santa Catarina, no Porto - já tinha lido comentários de visitantes que referiam que o verdadeiro espetáculo era observar os turistas que esperam, de câmara em punho, prontos a filmar, e de cabeça para o ar.
O céu estava azul e límpido e o calor apertava e todo o espetáculo não durou um minuto. Se por lá passar, veja o espetáculo - também não será um minuto perdido que fará muita diferença.
Na busca de souvenirs,(e aqui vai encontrar muitas lojas do género) reencontramos o Grand Café Orient - a pouco mais que 100m da praça - e decidimos provar naquele momento - meio da tarde - o tão famigerado bolo Medovnik.
DELICIOSO!
Húmido, fofo, uma mistura de mel, noz e creme, que resulta num bolo que mal entra na boca se desfaz. Delicioso! Como aliás se pode ver pelas fotos. Já disse que era delicioso?
Continuamos a ver as lojas de souvenirs. Passamos por debaixo da Torre de Pólvora até que encontramos a Casa Municipal.
Nota: ontem, enquanto fazia zapping, deparei-me com um filme do Vin Diesel, acho que se chama Triple X. Já o tinha visto há muito tempo, mas não me lembrava que se passava em Praga, Curiosamente, meu zapping levou-me ao preciso momento em que aparece a Casa Municipal, que imediatamente reconheci. É claro que fiquei a ver mais um pouco e surgem efetivamente lugares familiares. Curiosidade: nessa cena do restaurante surgem lugares que supostamente estariam pertíssimo uns dos outros, mas na verdade nem por isso.
Como havia souvenirs para comprar em Malá Strana decidimos ir outra vez ao complexo do castelo mas desta vez entraríamos pelo lado norte. Apesar de não entrarmos pela entrada principal, não deixei de a procurar e ver o pátio e a famosa entrada do render da guarda. Esta entrada do lado norte dá também para os jardins e temos uma bela vista da Catedral de São Vito.
Depois apanhamos o 22 para o hotel onde deixamos as souvenirs compradas. Partimos para a praça velha novamente para o jantar tipicamente checo. A variedade e abundância não têm ali lugar, por isso sugiro que encontre outra zona para jantar ou mesmo almoçar. Encontramos Svjek - restaurante a evitar.
(Quando me preparava para escrever esta carta fui espreitar o que dizia o Tripadvisor sobre o restaurante - não que este site seja muito fidedigno - e os primeiros comentários que li eram negativos, muito negativos. Confirmo que são verdadeiros).
Ao preço que se lê no menu à entrada deve acrescentar-se o couvert obrigatório - um roubo descarado de 100 coroas por pessoa por 1 pão miniatura e 1 tacinha com uma colher de manteiga sem sal e, desta vez, com salsa como condimento. O serviço é lento e pouco simpático, uma vez que só nos informam da obrigatoriedade do couvert depois de nos sentarmos e de termos pedido - o inglês que falam é trapalhão e com o barulho circundante pouco se percebe - e a comida não é nada de especial. 298 coroas pelo prato checo (svíčková na smetaně). A carne é super macia e saborosa, mas o molho para mim é demasiado doce. Teria ficado melhor com o guláš ou até mesmo com o queijo frito.
Entramos no restaurante sabendo que as coroas que tínhamos eram suficientes para o jantar, mas com surpresa do couvert começamos a fazer contas à vida enquanto esperávamos pelo jantar que tardava. As coroas checas não davam para cobrir o extra mencionado pois queríamos que nos restassem moedas para comprar bilhete de metro para o hotel. Já nos víamos a lavar pratos ou, na pior das hipóteses, ou talvez melhor, a fugir. Pensamos em ir levantar dinheiro enquanto esperávamos pela comida, pensámos depois em pagar com cartão e quando nos lembramos dos euros que tínhamos, decidimos pagar com euros. Quando o empregado vem apresentar a conta e nos vê com euros (notas e moedas) informa-nos que não aceitam moedas em euros. Really? Aproveita também esta altura para nos falar da gorjeta - os famigerados10% - que é mais ou menos mandatória em Praga. Really? A paciência já se esgotava.
Concluindo: pagamos em euros (notas) e os trocos tiveram que ser em coroas, não demos gorjeta, e acho que ele ainda ficou a perder, enganando-se em algumas coroas ao fazer a conversão. No final da noite, já sem moeda checa, só notas, viemos a pé para o hotel. É difícil arranjar alguém amável que te troque uma nota de 200 coroas em moedas e como as tabacarias estão fechadas, só poderíamos comprar bilhetes nas máquinas das estações com moedas. A caminhada que não era longa custou-nos um pouco, pois o dia tinha sido muito preenchido e tínhamos palmilhado muito. O trajeto de 2 km levou-nos até à Praça Venceslau e possibilitou-nos ver onde ficava o restarante Ovocný Světozor, recomendado pelo Janek, e onde iríamos no dia seguinte experimentar outro prato típico da cidade.
Desta noite o que se aproveitou foi mesmo a praça. As diferentes luzes voltadas para os monumentos deixam a praça numa penumbra que nos transporta para o passado e os monumentos ganham contornos fantasiosos. Esta é uma das minhas fotos preferidas. Sem photoshop, sem qualquer filtro e sem qualquer conhecimento de fotografia - aliás foi tirada com o meu telemóvel, como a maior parte das fotos.
P.S. O segundo dia de visita à cidade foi em cheio, como pode comprovar pelas duas cartas necessárias para albergar tanta informação. Os nossos pezinhos ressentiram-se mas as memórias trazidas deste dia foram as melhores.
Quando estou de férias, à descoberta de algo, sou definitivamente uma madrugadora (gosto mais da expressão "early bird").
“Lose an hour in the morning, and you will be all day hunting for it.” ~Richard Whately