Circuito Edward Norton - Fight Club
Caro Leitor,
O filme Fight Club (Clube de Combate) vi-o com o meu irmão e saí da sala do cinema com a mente a mil.
Já não sei se o fui ver por causa do enredo ou se por causa do Brad Pitt ou se por causa do realizador. Creio que terá sido por causa da trama, no entanto já tinha o realizador debaixo de olho. David Fincher tinha já realizado o brilhante Seven - 7 Pecados Capitais, The Game, bem como o video musical para Who is it de Michael Jackson, que é, na minha modesta opinião, um dos melhores de Michael Jackson.
O filme de 1999 parecia prometer pelo trailer e pelos atores envolvidos. Não me arrependi de o ter visto e no regresso a casa foi só disso que falei com o meu irmão.
A personagem de Edward Norton conduz-nos pelo filme através da sua voz. Será ele o narrador sem nome e será através dos seus olhos que entramos na sua vida patética. Visivelmente cansado e apático, a personagem de Norton não encontra sentido para a vida mundana que vive, entre a casa e o trabalho, e o trabalho e casa. O trabalho não o satisfaz, a vida social é inexistente e a casa mobilada inteiramente com a ajuda da Ikea não lhe provoca nenhuma satisfação.
No meio desta vida cinzenta, desinteressante, a insónia de que padece deixa-o ainda com menos energia e pouco funcional. Um dia, descobre que visitando grupos de ajuda e de apoio das mais diversas doenças consegue dormir finalmente. Embarca então uma rotina em que se infiltra nos mais variados grupos de apoio, fingindo ter todas as doenças que afligem os que lá procuram verdadeiro apoio. No entanto, pouco tempo depois, a sua rotina é abalada quando encontra Marla (personagem interpretada por Helena Bonham Carter), alguém que, tal como ele, se infiltra nos grupos de apoio para sobreviver à vida entediante que leva. Marla é semelhante ao narrador na sua apatia, mas muito mais desafiadora e mais corajosa que o narrador, que se mostra incapaz de dormir novamente pois já não encontra a libertação que os grupos lhe davam. A mera presença de Marla ataca-lhe a consciência e intensifica a sua falsidade. Revê-se nela e assim é-lhe impossível não pensar que ela está ali sem razão nenhuma e, por arrasto, ele também.
Depois de dividirem os grupos entre si, de forma a não se encontrarem, o narrador conhece uma outra personagem, Tyler Durden (interpretado por Brad Pitt) , alguém sem papas na língua, com uma ideia clara do que é e como quer levar a sua vida. Juntos, unidos por estranhas coincidências (o narrador perde o apartamento numa explosão e pede ajuda a Tyler), formam um clube de combate, para aliviar a tensão.
Ao mesmo tempo que o clube de luta ganha visibilidade entre os homens daquela cidade, Marla envolve-se com Tyler e paralelamente à rivalidade entre os dois homens pelo amor de Marla surge uma rivalidade pelo poder. O clube começa a ganhar proporções gigantescas parecendo evidenciar que há muitos mais como eles, espalhados pelo pais, pessoas enfadadas com a vida, procurando um escape, procurando sentirem-se verdadeiramente vivos. E é nesta altura que o narrador tem que lidar com a verdade de que Tyler não é quem diz ser.
Sem contar o fim da história, o filme deve ser visto uma segunda vez, se possível com pouca distância temporal entre as duas visualizações. Há pequenas frases, deixas dos atores, e até mesmos reações e gestos que serão interpretadas de uma maneira diferente.
Os desempenhos dos atores são excelentes, mas destaco o desempenho de Helena Bonham Carter, fantástica na sua peculiaridade. Destaco também a ironia do sabão, que achei na altura muito inteligente, e a mensagem de Tyler já quase no final do filme que espelha o filme, mas também a natureza humana :"As pessoas fazem-no todos os dias. Falam consigo próprias. Vêem-se como gostariam de ser.".
Já não me lembrava que era afinal uma história de amor... daquelas em que tudo antes da outra pessoa não importa, o durante pode ser danado, mas o mais importante é o depois... O amor torna-nos sempre melhores. Sempre.