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Letters and words

Letters and words

I need you... More than you know

Caro Leitor, 

quando um(a) (des)conhecido/a te oferece um bilhete para um concerto cujo cantor tu desconheces, o que fazes?

Aceitas. Aproveitas a oportunidade. A cavalo dado não se olha os dentes. Estava preparada para ouvir a música e tratá-la como música ambiente, aquela que não provoca grandes emoções, aquela que nos é indiferente, aquela que ouvimos (ou não) enquanto conversamos. O jazz e o soul não são os meus estilos musicais de eleição - I'm a chick of the 80's - e ainda que por vezes os ouça no carro, nas manhãs frias de sábado, a caminho do trabalho, não são estilos que me movem.

Munida de um julgamento prévio, sem sequer ter pesquisado nada sobre o artista, fui. Sei que não se julga um livro pela capa, mas achei que, ainda que não fosse um momento enfadonho - pois teria recusado -, a música iria entrar por um ouvido e sair por outro, sem deixar marca. Iria sair de lá do mesmo modo que entrei. Mas Myles Sanko não o permitiu. O cantor foi surpreendente.

Todos os concertos ao vivo revelam o artista, aí se separa o trigo do joio. E anda por aí muito joio. Myles encheu a pequena sala intimista de "good vibes" com músicas como "Come on home" e "High on you". Aqueceu o público, por fora e por dentro. A poderosa voz do cantor escutava-se sem grande esforço e o que sobressaía, para além da excelente afinação, era a clareza da sua voz. Clara, pura e refrescante como a água da nascente.

O seu estilo "dapper" não o demoveu de dar uns passos à James Brown. Sentia a música e fazia-nos senti-la também, à medida que "Forever dreaming", "Save my soul" e "Just being me" desfilavam. A música embriagava-nos, como o faz tantas outras vezes, e tomava comando de nós. Ali, a música ordenou aos meus pés, pernas, cabeça e até aos meus braços que se mexessem. Ordenou e eu obedeci. Todos obedecemos. Afinal precisamos dela, mais do que alguém possa pensar. 

Aqui fica a canção Just being me, pela simples razão de que é ao vivo e porque, salvo uma única exceção, este foram os músicos que o acompanharam ontem na Casa da Música. Aqui fica também um concerto de Myles, para que possa comprovar a boa energia do artista. Mas acredite: na Casa da Música foi muito melhor. Não posso recomendar os álbuns, mas recomendo vivamente os seus concertos. A repetir!

 

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 P.S. Obrigada à conhecida que me convidou e que me dá a conhecer, mais uma vez, pessoas, locais e histórias interessantes. 

 

Pela subversão é que vamos

 

 

Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
Ao que desconhecemos
E ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.

 

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Caro leitor,

Recordei-me deste poema depois da visualização dos dois primeiros episódios da série que aqui "apresento" e enquanto buscava um título interessante para esta carta. O poeta pretendia, provavelmente, referir-se a algo muito diferente do que transparece na série em questão. No entanto, num ponto de vista subversivo, meu e talvez só meu, julgo que pode espelhar a realidade distópica da série.

Há cada vez mais séries e mais diversidade nos temas. O budget das mesmas cada vez mais se aproxima do dos filmes hollywoodescos, atraindo atores conceituados e espectadores. As séries estão cada vez mais interessantes, seja pela qualidade dos atores envolvidos, seja pelos guiões muitas das vezes inspirados em literatura. E a qualidade vai aumentando à medida que a procura se intensifica.

Assisti ao primeiro episódio recomendada por alguém que conhece o meu gosto pelas distopias (ler carta velhinha) e deixei-me embrenhar na trama ao mesmo tempo que me surpreendia pelo criativo olhar distópico da autora, Margareth Atwood, pelas direções tomadas nos subsequentes episódios, decisões dos guionistas ou da autora.

The Handmaid's Tale é uma série inspirada na obra homónima da canadiana Margareth Atwood, de 1985, que, aliás, já tinha servido de mote a um filme nos inícios da década de 90. A narrativa na primeira pessoa abre-nos as portas a um futuro não tão distante do nosso. A visão tão distorcida da realidade é-nos explicada pouco a pouco ao longo dos episódios com a ajuda de flashbacks e é sem dúvida uma série que favorece a reflexão. Garantido está o entretenimento, a reflexão, e pensamentos do género "Eu sei por onde isto vai! Ah,... afinal não." Garantido estará também o oscilar de sentimentos por parte do espetador: ora vai gostar de uma personagem, ora a vai detestar no episódio seguinte, ora a detesta agora, ora a percebe nos episódios subsequentes.

Aqui fica só um prelúdio... Mais virá, depois da visualização da primeira temporada e da imperdível leitura do livro (dizem, por aí, que a série está melhor que o livro na construção/embelezamento do mundo, para qual a excelente atuação dos atores muito deve ter contribuído).

 

 

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Peaches, bicycles and short shorts... or simply ripening

Pêssegos, bicicletas e calções curtos ... ou simplesmente amadurecer

Caro Leitor,

O meu melhor filme de 2017 poderá ser um dos seus melhores filmes do ano 2018.  Call me by your name vai estrear em janeiro e é deveras surpreendente. 

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Baseado na obra homónima de André Aciman, o filme realizado por Luca Guadagnino e escrito por James Ivory conta com excelentes performances como é o caso do jovem Timothée Chalamet  e do também jovem mas mais maduro Armie Hammer.

Não revelarei aqui a história. Talvez dissuadisse alguns leitores. 

Não revelarei aqui a história. As (minhas) palavras seriam insuficientes para resumir e descrever o que floresce na tela.

Posso garantir que surpreenderá. Mesmo depois de ver o trailer. Mesmo depois de ler a sinopse ou um ou outro comentário ao filme (se tiver curiosidade e gostar de ler em inglês, recomendo o The New Yorker). Surpreenderá pela narrativa, surpreenderá pelo modo como o realizador escolheu desenrolar a experiência como se de um novelo de lã se tratasse, surpreenderá pela atuação dos atores. Supreenderá pelas paisagens, pelo modo de vida, pelos ícones dos anos 80 (espelhados ora na banda sonora, ora no guarda roupa, ora no velhinho walkman). Surpreenderá pelas noções e ideias que parecem fazer apenas de pano de fundo, mas que na verdade se cruzam e se articulam umas com as outras no filme e lhe dão mais significado. Surpreenderá pela beleza que emana da história, das atuações, das conversas, da experiência. Surpreenderá talvez porque não imaginaria que um filme com este tema fosse tão belo, tão sagrado, tão delicioso como a fruta da época (peach, anyone?).

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Deixe-se supreender e não o perca numa sala de cinema.