From Frantz, with love
Tarde te escrevo esta carta. Tarde será, talvez, quando a leres. Porventura, tarde demais.
Caro Leitor,
As palavras inscritas nesta missiva ficcionada podiam bem fazer parte do filme cuja beleza me proponho a descrever, como se de uma última carta de Frantz para Anna se tratasse. Facilmente aludirão também ao fato de que tarde chega esta minha carta que se propõe descrever esse filme que marca pela sua beleza e pela sua simplicidade complexa. Não sei se o leitor ainda o poderá encontrar em alguma sala de cinema mais intimista do nosso pais. Talvez seja por isso tarde demais.
O filme mostra o após Primeira Grande Guerra do ponto de vista humano, centrando-se no triângulo, isósceles ou escaleno, que se forma entre Anna, Adrien e Frantz, tendo como pano de fundo a Alemanha e a França de 1919. Anna, alemã, noiva enlutada que sofre de modo contido a morte daquele que seria seu futuro marido, conhece Adrien, ex-soldado francês, dito amigo de Frantz, no cemitério. Ambos o visitam para prestar as derradeiras homenagens ao corpo ausente de Frantz, corpo que não se encontra debaixo daquela sepultura, corpo que estará algures em França. A ligação a Frantz une-os e a amizade desenvolve-se à medida que ambos escapam do sofrimento.
O filme não acaba como muitos esperariam e, mesmo para mim, o fim foi surpreendente. Por três vezes pensei que o fim seria aquela cena e por três vezes fui agradavelmente surpreendida. As reviravoltas são surpreendentes mas nada rebuscadas. As diferentes interpretações por parte de espetador, dos detalhes em cada cena, do final, do paralelismo que na minha opinião se pode estabelecer entre as duas personagens principais nas suas mentiras, nas suas viagens, na busca de algo que eles pensam ser remédio para a dor, conferem ao já referido um papel ativo na procura de significação.
P.S. Pesquise e veja o filme. There isn't a single frame that doesn't reel you in - pun intended.