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Letters and words

Letters and words

Croácia e Eslovénia - segundo dia

Caro Leitor,

Em clima de férias, férias a sério, fora de casa, o descanso é para os fracos. Já habituada a ver muito e muito fazer num único dia de turista, esta primeira manhã na Croácia não foi diferente. Assim, staying true to same old me, foi um acordar cedo, tomar o pequeno almoço sem grande vagareza e pegar no carro alugado sem pensar muito na alhada em que me poderia estar a meter, que isto de conduzir um carro que não é nosso num pais que desconhecemos não é para todos. 

O destino era a Eslovénia e os eslovenos -ah, não. A primeira paragem, o lago Bled. Como tinha sido eu a preparar o roteiro desta parte decidi oferecer-me para conduzir primeiro. Fique o leitor a saber que as fronteiras, pelo menos saindo de Zagrebe, podem ser algo demoradas, suponho que principalmente na época de veraneio. Dificilmente o nosso horário/plano seria cumprido, mas muito mais difícil ficou de o cumprir quando tivemos que encher o depósito do nosso carro e parar ainda para comprar um dístico para a condução na Eslovénia (compra-se nas autoestradas). A velocidade de  130 km, velocidade máxima permitida tanto na Croácia como na Eslovénia, nem sempre é viável ou permitida nas autoestradas - há muitos túneis que nos obrigam a reduzir a velocidade. A chuva também não ajudou.

To make a longtripshort, a viagem até Bled correu sem problemas. As planícies vão dando lugar aos vales e às montanhas, à medida que nos aproximamos do famoso lago.

Bled é tudo o que se vislumbra nas fotos do Pinterest ou Instagram. Desde que o tempo o permita. Quando chegamos à vila de Bled o tempo estava bom, mas há medida que serpenteávamos o lago de um azul bizarro, as nuvens acompanhavam-nos. Quando finalmente estacionamos - na época de veraneio será difícil estacionar a sul de Bled, perto do parque de campismo, mas há um parque gratuito onde se pode estacionar, basta continuar na rua que serpenteia o lago subindo até parecer que já não vemos mais o lago - estava a chover canivetes. Os planos de papel que elaboráramos, surgiam agora ora ensopados e  desfeitos pela água , ora cortados pelos canivetes que caiam de um céu cinzento - percebe agora, caro leitor, porque usei "chover canivetes". Estava portanto a chover em pleno agosto. Não podia ser. Simplesmente não podia ser. Tínhamos feito esta longa viagem, passado a fronteira croata-eslovena, ansiado tanto por este dia e agora íamos ficar dentro do carro ou, na pior das hipóteses, partir para a capital eslovena sem experienciar Bled e a sua famosa torta? NE! (tradução: não)

A chuva caía de facto de forma intensa e não é que no carro espaçoso onde só estavam 3, não havia nenhum casaco, já para não falar de um guarda-chuva, objeto (in)útil para um turista em pleno verão. Esperamos, talvez uns 30 minutos e finalmente a chuva passou. De espírito aventureiro e cheio de ânsias, partimos, estrada abaixo, vislumbrando o lago que de vez em quando teimava em surgir. As primeiras fotos foram feitas antes da praia e do parque de campismo, pois quem desce do parque de estacionamento, fica surpreendentemente agradado com a visão longínqua da  pequena e pitoresca ilha do lago Bled e com o sereno e cristalino lago de cor turquesa. A estrada é estreita e os carros nem sempre conseguem passar nos dois sentidos ao mesmo tempo. Por isso não se distraia com a beleza da paisagem e com a forte vontade de tirar umas 50 fotos, sendo 40 delas selfies, pois pode ser de fato perigoso parar ali na berma da estreita estrada para apreciar a vista.

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Depois aguardamos alguns minutos pelo nosso barco típico que nos levaria, numa viagem onírica, até à ilha.

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A vontade de me atirar para aquela água e nadar era imensa, pelo menos a minha, mas não sabíamos se o nosso barqueiro estaria em breve para largar cais. Pagamos o óbulo (12 euros) ao barqueiro, antigo atleta olímpico de remo, avô de três,

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sentamos-nos no banco corrido de madeira e esperamos que o barco se movimentasse, como que puxado por uma corda invisível. É a beleza de um transporte totalmente manual - o silêncio da locomoção é divinal e extremamente relaxante - só faltaram as harpas. A água era tão bela que parecia artificial.

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Atracamos na ilhota que nem Perseu à procura não sei de quê. Tínhamos mais ou menos 1 hora para explorar a ilha. Precisaríamos de uma boa parte dela para subir a descer as enormes escadarias. Na ilhota há uma igreja de estilo barroco cuja entrada paga (6 euros) permite não só visitá-la, mas também subir até à torre para tocar o sino que, dizem, trará sorte ao turista. Aliás, na descida desde o estacionamento até ao barco, muitos foram os sinos que dobraram.

Eu optei por não ir e contentei-me com a beleza exterior.

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Lá em cima, para além do espaço ajardinado e das vistas, podemos encontrar uma interessante loja de souvenirs, com coisinhas boas.

A descida fez-se pela outra escadaria que desemboca num vista espetacular. Perto da água, havia mais movimento. O sol tinha aparecido, convidando à prática de desporto ou à pura prática do lazer.

 

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Dei à volta à ilha por um caminho apertado e regressei para junto dos barcos. Era hora do regresso. 

O sol, que por esta altura brilhava intensamente, tornara a paisagem ainda mais bela (ver foto em baixo) e os que se acharam convidados à prática de desporto ou à prática de puro lazer, descansavam agora. O remador loiro esloveno, que minutos antes se tinha atirado às águas pouco profundas (e quentinhas - dizem que a temperatura ronda os  26º C por causa de umas nascentes de água quente) para se refrescar depois da árdua viagem, secava-se agora. E eu aproveitava o momento de lazer( o momento prazeroso em que o vi sair das águas) para descansar - a vista (resting my eyes on him).

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Bem, ainda que recusássemos a prática de desporto, só porque numas meras horas não dá para encaixar o desporto em Bled, nunca diríamos que não à prática de lazer/prazer. E que tal o prazer da degustação? Depois de um almoço simples num restaurante com vista para o lago, seguiu-se o verdadeiro momento de degustação.

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A famosa torta Kremšnita, um bolo de massa folhada e recheado com creme de baunilha e chantilly. Delicioso, mas uma porção é demasiado, até para mim.

A torta veio com um sabor amargo. Estava na hora de abandonarmos Bled, em direção à capital da Eslovénia.

P.S. Em Bled podem ver-se muitas mais coisas. Há um castelo, perto do centro da vila, que optamos por não visitar, a própria vila, com o seu comboio turístico e alguns miradouros. Ao longo do lago, aliás, percurso passível de se fazer para um turista que opte por dormir em Bled, devem ser inúmeros os pontos para fotografar o lago e as montanhas. Há ainda do lado sul (por oposição à vila), perto do parque de campismo, um percurso florestal que dá acesso a vários miradouros. Dois desses estavam no nosso plano, mas a chuva e a falta de tempo obrigou-nos a descartar este percurso.  O primeiro era o miradouro Ojstrica (altitude 611m; distância 20 minutos de caminhada) e o outro, mais alto, o  Velika Osojnica. É claro que não deve deixar de mergulhar nas águas do lago Bled e se o seu estômago o permitir, experimentar o gelado Sladogled, à venda no Park café - sim porque Bled também é conhecida pelo seu gelado - , e ainda a torta Potica - uma torta menos doce e  feita com nozes que se compra na ilhota.

Por isso aqui fica a dica, pernoite em Bled e deixe-se ficar dois dias por lá se quer aproveitar esta vila e tudo o que ela oferece com a calma que o lugar merece.