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Letters and words

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Páscoa na Galicia

Caro Leitor, 

Com a ameaça de mau tempo avançada para o período da Páscoa e com, mais próximo da data, a ameaça de falta de combustíveis, a hipótese de mais uma viagem, ainda que curta, parecia ser remota. No entanto, estando a Galiza tão perto de nós nortenhos, parecia um desperdício de oportunidade. Um saltinho até lá sei bem o bem que me faria.

Arranjei um hotel 4 estrelas em Vigo (Hotel Hesperia de Vigo) a pouco mais de 60 euros para uma noite com pequeno-almoço incluído - redução de preço graças ao Trivago. 

Vigo não é uma cidade deslumbrante e não foi uma cidade para visitar. O objetivo era visitar a Galiza. A parte mais bonita da Galiza será talvez a Corunha, pelo menos assim me pareceu pelas pesquizas que fiz, mas dado que só tinha o fim de semana  disponível, e a reserva no hotel foi feita na sexta, pelos motivo já elencados, a aventura teve que ser mais comedida.  Da Galiza, só conhecia Santiago de Compostela, visitada quando era muito pequena, Sanxenxo e O Grove, que visitei aos vinte e poucos anos e a zona da raia junto a Caminha e Valença. Vigo seria assim o sítio para dormir. Pesquisei o que se poderia visitar nas proximidades. Já saberia que iria visitar o Monte e a Citânia de Santa Tegra (Tecla) na região A Guarda. As restantes ideias vieram das minhas pesquisas.

O monte tem muito para oferecer. A entrada, que dá direito a visitar o museu arqueológico, custa 1 euro por pessoa e o carro pode ir até lá em cima . As vistas monte acima são muito bonitas sobre o Rio Minho e Caminha e lá em cima encontrará vários miradouros.

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Na subida, encontrará primeiro parte da citânia do lado direito. Do lado esquerdo verá uma "palhoza". Terá que estacionar por aí, junto à estrada, ou subir um pouco mais e parar junto a um casarão, onde terá vistas para uma outra parte da citânia.

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Subindo um pouco mais encontrará o monte com os dois picos: Pico do Facho (328m) e o Pico de San Francisco (341m). Neste último encontram-se estabelecimentos hoteleiros, a ermita e o MASAT (museu).

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Reserve pelo menos 1h30 para este local.

Depois prosseguimos até Nigrán, para ver um uma igreja peculiar. O Templo Voltivo del Mar atraiu a minha curiosidade pela sua arquitetura. A entrada é gratuita e no sábado não foi difícil arranjar estacionamento. Está situado numa zona balnear pequena com pouca oferta de restaurantes, mas vale a pena parar aqui para ver a igreja. Não me desiludiu. É bonita por fora e por dentro.

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Reserve 30 minutos para este local, já com tempo para procurar estacionamento.

Depois de um simples e barato almoço perto da praia, rumámos a Pontevedra, para ver o Pazo de Lourizán. Não foi fácil encontrá-lo e sair em Lourizán não ajudará. É melhor sair em Marín e procurar a fábrica de celulose. O Pazo fica muito perto. É gratuito e apesar de não ter um parque de estacionamento propriamente dito, poderá estacionar dentro da quinta, junto à estrada. Uma vez lá dentro perceberá porque não se paga: tem um jardim mais ou menos bonito que envolve um palácio abandonado. Este edifício velho e desabitado, mas muito bonito, desperta a imaginação do visitante mais dado às divagações da mente. Aqui fará umas fotos fantásticas. Se gosta de camélias, é o sítio ideal para si.

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Reserve 1 hora para este local.

Ainda tentámos subir um pouco até Sanxenxo e O Grove. Já não me lembrava do que gostei mais quando visitei esta zona, mas deve ter sido Sanxenxo.O Grove é interessante se quiser fazer um passeio pela ria e provar o mexilhão - que detesto. Aqui também poderá encontrar a ilha da Toxa.

O regresso ao hotel já foi perto das 20h.

No dia seguinte, fomos até a Ribeira Sacra, a 120 km de Vigo, para nos deliciarmos com a natureza. Ribeira sacra é conhecida pelos seus mosteiros, vinhedos, mas principalmente pelo desfiladeiro do Sil e pela rota dos miradoiros que se situam nesta zona.

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Dirigimo-nos até Sober e de lá a sinalética é eficaz para nos conduzir aonde queremos. Ainda que tenhamos feito até Ourense numa auto-estrada (fique o leitor a saber que se tem Viaverde poderá utilizá-la em Espanha), a maior parte do caminho é feita numa estrada regional, entre montanhas e muitas curvas. Depois da minha breve pesquisa, achei que o caminho seria feito por esta ordem:

  1. Miradoiro A Cividade
  2. Miradoiro do Bouqueiriño
  3. Miradoiro dos Balcóns de Madrid e O Torga
  4. Miradoiro das Xariñas de Castro
  5. Mosteiro de Santa Cristina de Ribas de Sil

Depois de Sober, as indicações levaram-nos a um cruzamento com indicações para os dois primeiros miradoiros.

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Optei pelo direita para ver o primeiro, mas o leitor fará melhor se for ao 2º e depois ao 1º porque a estrada que vai até ao Miradoiro do Bouqueiriño é melhor do que a estrada todo o terreno para A Cividade, e destes miradouros há depois uma outra estrada de mais ou menos 1km que os liga.

  • Miradoiro A Cividade

Mais bonito que as imagens da Internet. Aproveite aqui o tempo, demore-se. É o mais bonito miradouro que por lá verá e tem a vista mais interessante.

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Quando lá chegamos, por volta das 11h, só estava uma família e rapidamente tivemo-lo só para nos durante talvez 15 minutos. Daqui encontrará um caminho para um castro/citânia (daí o nome), que optámos por não ver. O parque fica a poucos metros do miradouro e o castro a 300 metros.

Reserve 1h para o local caso queira ver o castro. Se não quiser, 30 minutos serão suficientes.

  • Miradoiro do Bouqueiriño

Uns 100 metros de subida separam o parque de estacionamento deste miradoiro. Terá uma vista diferente do rio Sil e poderá sentar-se num banco que aí se encontra e que lhe permite admirar a vista confortavelmente. Daqui consegue ver o Mosteiro de Santa Catarina, do outro lado do rio, no fim da estrada.

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Verá várias embarcações a deslizar pelo rio. É possível fazer passeios pelo Rio Sil e existem várias empresas com vários "embarcadeiros", mas carecem de reserva. Nos 3 dias anteriores, já só havia uma empresa com um único horário disponível que era demasiado tarde para nós (19h30). O valor à data eram 12 euros por pessoa, para 1h de trajeto.

Seguimos em direção ao outro miradoiro do outro lado do rio. Almoçamos ainda deste lado do rio, na província do Lugo, no restaurante a Cantina e no percurso para o miradoiro encontramos este, impossível de não parar para ver.

  • Miradoiro de Souto Chão ou do Vendimador

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As vistas sobre o desfiladeiro são semelhantes mas a particularidade deste miradoiro é a paisagem vinícola  e a escultura "O Carreteiro" que encontramos pelo caminho até ao miradoiro.

  • Miradoiro dos Balcóns de Madrid e Mirador Os Torgas

Estes miradoiros situam-se na província de Ourense. Do parque de estacionamento (junto ao campo de futebol, não se deixe enganar se vir alguns carro situados noutro sítio e na dúvida pergunte) até ao primeiro miradoiro serão cerca de 100 metros. É um miradoiro bonito, com vários balcões sobre o desfiladeiro, mas por ser o mais popular e aqui que encontramos mais turistas.

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O Torga fica talvez 50 metros de distância e proporciona uma visão semelhante.

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Reserve 1 hora para ver os dois miradouros, pois se tiver muitos turistas terá que esperar a sua vez para fazer a selfie perfeita.

  • Miradoiro Xariñas de Castro

Este miradoiro situa-se em pleno parque de campismo Galicia Máxica e é privado, mas o visitante tem acesso a ele sem restrições. Quando por lá passamos não havia estacionamento pelo que resolvemos descer até ao Mosteiro primeiro. É um miradoiro bonito por causa da construção - dois estrados que se estendem para lá do desfiladeiro e que admitem só 3 pessoas de cada vez.

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Está inserido num local zen, com repuxo de água e banco com uma escultura a convidar ao descanso.

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  • Mosteiro de Santa Cristina de Ribas de Sil

O Mosteiro de Santa Cristina fica no meio da floresta e as árvores, ainda que praticamente despidas escondem-no devido à cor suave das suas paredes que se confundem com a cor das sossegadas árvores. Antes de lá chegamos temos que pagar entrada - 1 euro - que ajudará na recuperação do mesmo. É um mosteiro pequeno mas bonito, que deve ser ainda mais bonito no tempo frio, com as cores do outono ou com a neve do inverno.

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Este local possui casas de banho, junto à bilheteira. Não há um parque de estacionamento, terá que estacionar junta à apertada estrada, mas cuidado que os ramos das árvores que ladeiam a estrada caem com muita frequência. Respeite a sinalização e não se indigne quando um visitante o aconselha a não estacionar ali pois os ramos costuma cair. É verdade. Vi um ramo grosso cair no capô de um carro.

Na região da Ribeira Sacra encontrará muitos mais miradoiros e muitos mais mosteiros, alguns dos quais no percurso aqui delineado - lembro-me de ver indicação para um, antes de chegar a Sober. Um dia chega para ver estes aqui mencionados, mas se pretender ver todos os miradoiros, mosteiros e castros e quiçá fazer algum dos percursos pedestres (passarelas rio Mao) que a região tem para oferecer, então reserve dois dias para a Ribeira Sacra. Encontrará muita informação na Internet. Encontrei grande parte da minha 

aqui e aqui. O regresso fez-se por Chaves.

Assim se passou a Páscoa, sem ter visto um único compasso pascal. Na minha pesquisa tomei conhecimento de que existem algumas regiões da Galiza ainda tradicionalmente ligadas à celebração pascal, mas pelos sítios onde andei não vi nada.

Foram dois dias cheios e baratinhos. Gastei uma média de 140 euros, já com as portagens incluídas, e com gastos de combustível e portagens partihados por 3.  

O que gostei mais? Da Ribeira Sacra -I am, after all, a sucker for nature - e do encantamento do Pazo de Lourizán - I am writer at heart and there your mind  fills the abandoned palace with life.

Ficará para outra vez a Corunha e as ilhas Cíes... Até um dia, Galicia!

 

 

Croácia - Varaždin (quarto dia - 1ª parte)

Caro Leitor,

 "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", Fernando Pessoa, Mensagem

Às vezes assim é, mas no que toca a viagens, ainda que planeadas, muito pode acontecer. E ainda que se sonhe, a obra não nasce, pelo menos não naquele momento.

Ainda em Portugal, estava na mesa a hipótese de visitar Halstatt partindo de Zagrebe. Quem não quereria visitar um sítio tão pitoresco como este, património mundial da UNESCO? (É tão idílico que os Japoneses fizeram uma réplica no Japão)

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Afinal o que são 357 km de distância para se fazer de carro? Nada, "quando a alma não é pequena". É como ir do Porto a Lisboa. 3 horas. Certo? Às vezes temos mais olhos que barriga...

A experiência passada (trajeto para Bled e Split; as passagens pelas fronteiras - seriam duas para Hallstatt [Eslovénia e Áustria]; chuva e ventos fortes e os eufemismos do googlemaps) dizia-nos que as 4 horas planeadas no trajeto rapidamente se transformariam em 6 horas (tendo em conta que a previsão meteorológica avançava com chuva para o local nesse dia).Logo, seria muito difícil aproveitar Hallstatt. Por isso, de coração pesado, esta aventura foi abandonada e rapidamente se traçou um percurso alernativo, alinhavado ainda em Portugal.

O plano B consistia em visitarmos algumas cidades, vilas satélites à volta da metrópole.

Varaždin, foi a primeira escolha. A pequena cidade barroca que outrora fora a capital croata, conhecida por ser a cidade dos anjos ou, entre os locais, como a pequena Viena, fica a norte de Zagrebe, no norte da Croácia, muito perto da fronteira eslovena a pouco mais de 80 km da capital.

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Este lugar foi uma agradável surpresa. Percebe-se a razão pela qual foi  reconhecida por revistas ou distinguida com prémios na área de turismo. A serenidade impera e aqui é impossível andar apressado. Estacionámos perto de um jardim e de uma igreja e depois embrenhamo-nos pelo centro barroco, sem qualquer bússola. Desembocámos na praça onde está a câmara municipal e o palácio Drašković e deixamo-nos levar pelo sol e pelo passo lento dos habitantes e turistas.

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Estávamos à procura do castelo, pensando que estaria num ponto mais alto da cidade ou até mesmo fora dela, uma vez que neste plano B não tinha havido tempo para uma pesquisa do que ver e visitar, e surpreendentemente caímos no Paraíso. Anjos esperavam-nos e dando-nos as boas vindas convidavam-nos a permanecer quiçá para sempre lá, como se o tempo fosse esquecido.

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Por sorte um dos anjos que conhecemos e que nos deu as boas vindas à cidade era o dono de uma loja dedicada aos anjos (foto abaixo).

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Soubemos que era o artista local Zeljko Prstec, criador de muitas das obras na loja. A sua amabilidade levou-nos a perdermo-nos um pouco pela sua loja e pelo seu jardim, que tão docemente nos convidou a visitar. E até mesmo quando lhe perguntei onde ficava o castelo não se riu quando saiu da loja e deu dez passos e mo mostrou, lá mais ao fundo! Foi o artista também que nos falou de Andjelinjak, uma viela que não sabíamos sequer que existia e que, mesmo depois das indicações, não foi fácil encontrar. É que a designação "viela" é talvez um eufemismo. Visite a loja, experimente a amabilidade do artista e penetre no jardim por detrás da loja

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e tire imensas fotos com as criaturas celestiais, com a cadeira em frente à sua loja e também com ele - afinal é uma celebridade e uma fantástico anfitrião da bela cidade adormecida. Pode ser que lhe ofereça também uma lembranças.

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O castelo fica logo ali, depois da praça Trg Miljenka Stancica.

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Não visitámos o castelo por dentro, mas é possível passear pelos seus jardins e entrar na fortificação sem qualquer custo.

Eram talvez 11 horas quando nos embrenhámos novamente pelas ruas, praticamente desertas. Caminhar com o coração pesado de  boas memórias recentemente formadas por ruas onde o silêncio é só quebrado pelo som dos nossos passos é bom e recomenda-se. 

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Nestas ruas poderá encontrar bancas com produtos artesanais, entre eles um licor de mel delicioso (para quem aprecie) e que nada tem a ver com o que se pode encontrar nas lojas do aeroporto. Também encontrará um trono, digno de rei ou rainha no meio da rua, mais um palácio e ainda uma estátua de Grgur. Se estiver bem atento, poderá encontrar a viela. Depois da estátua de Grgur, caminhe olhando sempre para a sua esquerda e talvez a encontre.

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A instalação tem a assinatura de Zeljko Prstec e os anjos que por ali dormem vão mudando de cores.

Para além do que vimos, poderá ainda encontrar por aqui o Teatro Nacional Croato e muitas igrejas, basta-lhe para isso percorrer de lés a lés a vasta zona pedonal de Varaždin.

Partimos de coração cheio. Partimos otimistas. Partimos porque havia ainda mais para descobrir. Partimos. O dia ainda ia a meio...