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Letters and words

Letters and words

NO CUTS, NO BUTS, NO COCONUTS - A TEDx event

Caro Leitor,

Facts:

A Tedx Matosinhos teve lugar ontem, dia 7 de dezembro, na Porto Business School. O evento, que tem por base a divulgação de ideias interessantes capazes de mudar o mundo, começou às 17 horas, terminou à 1h30 da madrugada de domingo e incluiu várias talks com diferentes speakers, das mais variadíssimas áreas, alguns mais conhecidos do que outros. O bilhete de 40 euros inclui portanto todas as "talks", 2 coffee breaks, música e dança, um jantar e um "goddie bag".

About last night

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O evento, com o tema "no excuses" (não há desculpas) como fio condutor de todas as participações, foi brilhantemente conduzido pelo humor "on point" de Sérgio Sousa, um host com credenciais mais de que comprovadas na área da comunicação.

O 1º speaker, Paulo Novais, falou-nos brevemente da Inteligência Artificial. Acredita que esta estará sempre ao nosso serviço (não desanimem amantes do Terminator, para vocês haverá sempre muita variedade na ficção) e que será uma mais-valia perante a complexidade, momento em que os nossos cérebros se atrapalham, uns mais do que outros é certo.Os robots não tomarão conta do mundo, mas sim ajudar-nos-ão nessa árdua tarefa. O mundo caminha nesta direção, mais lentamente do que os amantes da ficção desejariam, e a chave reside na flexibilidade. Só assim conseguiremos adaptar-nos e sobreviver. No excuses.

O 2º speaker, Braima Dabó, mundialmente reconhecido pelo seu gesto altruísta nos mundiais de atletismo de 2019, falou-nos da sua experiência de vida. Contou-nos, sempre com um sorriso, o percurso por vezes atribulado, pelo menos aos nossos olhos, até à data. Falou-nos da família, elemento fundamental e a base da sua formação, das árvores de caju e do percurso como atleta. Uma palestra simples, mas com uma frase pujante algures pelo meio, que creio ter surgido na hora: Braima comentava que no momento da prova se sentia feliz por estar a correr ao lado dos outros atletas, mas rapidamente corrigiu o seu comentário dizendo que na verdade não estava a correr ao lado deles, mas sim atrás deles -  estava em último. Mesmo em último não desistiu de correr e não lhe passou despercebido o sofrimento do outro. A nossa vida e as nossas dificuldades não podem ser uma desculpa. 

Catarina Magalhães foi a 3º speaker e iniciou a sua participação com um o som dos glaciares a colapsarem, um som tragicamente belo. O glaciares no Ártico evidenciam um recuo de 500 metros por ano e tal acontecimento desencadeia uma série de consequências que resultam na diminuição das micro-algas que são a base de sustentação de inúmeras espécies. Ainda que o aquecimento global se sinta de diferentes maneiras em diferentes zonas do globo, não nos podemos descartar da equação, dizendo que o problema não é nosso. 

Depois do coffee break e da serenidade da música da jovem e talentosa Joana Almeirante, seguiu-se Pedro Rocha, um dos oradores que queria mesmo ouvir. Pedro é um agricultor biológico urbano. Pelo perfil apresentado no programa, achei que iria ser interessante para mim, habituada a falar destas novas atitudes aos meus alunos (lembro-me de falar dos "freegans" aos meus alunos em 2014, altura em que eles nada sabiam disto e mesmo do movimento vegan) e interessada na reformulação do ambiente urbano como uma mais valia para a saúde física e mental (seja no uso dos terraços dos prédios para hortas, seja para cinemas ao ar livre, por exemplo).  Pedro começou explicando que tinha 18 minutos (tempo da talk) para mudar o mundo. Falou por 10 minutos, espalhando a semente da mudança em nós, referindo dados que já conhecia. Ofereceu-nos os últimos 8 para nos dedicarmos à mesma tarefa - no excuses. 

A 5º speaker veio cheia de entusiasmo e cativou-nos. Ana Pires é a primeira mulher a finalizar com sucesso o Curso de Cientista-Astronauta no âmbito do projeto PoSSUM. Mostrou-nos que desde cedo se apercebeu que o nem o céu é o limite. Como mulher, não sentiu medo de avançar em áreas maioritariamente masculinas. Como pessoa, não deixou que o medo lhe cortasse as asas que tão bem foram cuidadas na infância pelos seus pais. No excuses!

Seguiu-se Ricardo Costa que nos falou de coaching e de como obter resultados diferentes (e melhores) mudando o que é possível de ser mudado. Os nossos resultados (o que hoje temos) derivam dos nossos comportamentos. Bons comportamentos = resultados positivos / comportamentos negativos = resultados negativos. Essa diferença de comportamento advém do nosso estado de espírito e este é possível de ser alterado, ora pela fisiologia, ora pelas nossas representações internas. A crença ou o juízo de valor que faço relativamente ao comportamento do outro leva-me a agir perante esse comportamento de um determinado modo. O orador deu o exemplo de alguém que se cola a nós na autoestrada e não nos larga até lhe cedemos a passagem. Se pensarmos que esse comportamento é só estúpido, isso enfurece-nos e ficámos com o dia, ou parte do dia, estragado. Se, por outro lado pensarmos que quem se cola a nós vai com pressa por causa de uma situação de verdadeira urgência (médica, por exemplo), cedemos rapidamente e de bom grado a passagem. E até nos podemos sentir bem com a ação praticada. É possível mudar o resultado. É possível. Não quer dizer que o façamos e não quer dizer que o façamos sempre. Mas devemos ousar fazer algo diferente. Como alguém terá dito "Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes". Não há desculpas para não mudar.

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Fica aqui o momento do método Wim Hof.

João Pupo Lameiras veio abrir-nos o apetite para o jantar. Falou-nos da criatividade na área da culinária ou no que ele chama de "transformidade", pois como Lavoisier defendia "nada se cria, tudo se transforma". Mostrou como a elaboração de pratos deriva das suas experiências e como vai colando peças de outras culturas, pratos, sabores para fazer o puzzle que é a sua criação gastronómica (a metáfora é minha, não dele, mas achei que vinha a propósito).

Depois do jantar e de um momento de dança proporcionado pelas muitos jovens dançarinas de We Dance, voltamo-nos, como às vezes acontece após o jantar, para as "news", neste caso "fake news". O speaker Filipe Luis mostrou como estas se aproveitam da verosimilhança (como os peixes pegadores do "Sermão de Santo António aos Peixes" que se colam aos peixes maiores, mais uma vez uma correlação minha) para manipular e para fazer parecer verdade. Desta talk fica a responsabilidade que nos cabe de escrutinar o que vemos e lemos. No excuses.

O 9º orador Paulo Ponte falou-nos do seu regresso à pintura. Concluímos com a ajuda dele que o nosso descontentamento pode terminar, mas que nos cabe a nós essa tarefa. Que não devemos adiar e dar desculpas e sim agir. Um momento de maior fragilidade física levou-o de novo para a pintura como prazer e como trabalho. Deixou-nos com as suas pinturas de várias coleções nos ecrãs e com a sua paixão pela música clássica, inspiração para as suas obras. Falou-nos de duas das coleções que ligam a música e arte. As coleções Por Amor e a Sinestesia. Falou-nos da sua coleção Philosofia. Mostrou-nos as suas pinturas para percebermos a sua inspiração. Para além das suas obras e das suas palavras, também nos deixou com duas frases significativas de outros. Uma de Woody Allen "Que feliz eu seria se fosse feliz" e uma de Voltaire "Decidi ser feliz porque é bom para a saúde". No excuses!

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Quando Cristina Queirós entrou a um ritmo apressado e debitando noções e definições, percebemos que havia muito por dizer sobre o tema. Licenciada e doutorada em Psicologia, veio falar-nos do "burnout". Como professora de inglês já conhecia a expressão. Como professora já vi casos perto de mim. Como curiosa, já tinha alguma informação sobre o assunto. No entanto, aprendi que o burnout não é o copo que se vai enchendo até mais não poder. É sim o copo que se vai esvaziando. O stress do trabalho vai drenando os nossos recursos e esvazia-nos, deixando-nos incapaz para lidar com a situação. Não há desculpas para não procurarmos ajuda.

O último painel iniciou-se com o mentalista Leandro Morgado. Fiquei desapontada, não pela talk em si, mas pelas minhas expectativa. Pensava que ia finalmente ver um mentalista em ação. Não era esse o propósito desta talk, infelizmente. Leandro falou-nos do Mago e do mago que podemos ter em nós e de como a experiência do mistério é um presente que o mago/mágico/mentalista nos oferece. Ele não esconde o segredo da ilusão de nós. Ele não o afasta de nós para nos prejudicar. Ele esconde-o para que possamos ter a experiência do mistério que de outra maneira se perde e nunca mais é recuperada. Saber que a senhora que é cortada ao meio e magicamente aparece sem nenhuma mazela se deve a uma flexibilidade fantástica da mesma é ter o sonho destruído. Nunca mais olharemos para a ilusão com os olhos de uma criança que se fascina com a eterna novidade do mundo.

Pedro Barbosa falou-nos do trabalho da era da inteligência artificial, corroborando o que o 1º speaker já tinha dito. A I.A. vem para nos ajudar e não para nos escravizar. Talvez até nos venha salvar de alguma escravidão. Mostrou-nos que há trabalhos onde os humanos são e serão melhores que as máquinas, que há áreas onde as mesmas são mais avançadas e áreas onde podemos interagir.

Por fim, foi o momento de Marco Cruz. O host alertou a plateia para a pouca ou nenhuma preparação do speaker para este momento e as nossas expectativas não foram defraudadas. Marco Cruz é escritor, entre outras coisas, e o seu primeiro livro Os Pés pelas Mãos tem um título que poderia ser o poster de apresentação deste convidado. No entanto, o convidado não pretendia enganar a plateia e uma boa parte da sua intervenção foi mesmo sobre a falta de preparação para o evento. 

O evento terminou com o habitual agradecimento aos convidados, ao público e à equipa. E levantou-se já o véu do próximo evento cujo tema será WHAT YOU SEE IS WHAT YOU GET. O que me parece muito interessante. No excuses to miss it!

P.S. A expressão que No cuts No buts No coconuts foi tirada da série The Big Bang Theory.