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Letters and words

Letters and words

Ponto de situação - 2ª semana (a vida continua)

Caro Leitor!

Muitos trabalhos para corrigir, muitas mensagens para pais/alunos enviadas, muitos e-mails trocados entre colegas, alunos, muitas fotos para postar dos trabalhos dos alunos. MUITO TRABALHO - apesar de não ser tão mau como na semana anterior, em que cheguei a trabalhar bem mais de 8 horas por dia.

As aulas online já começaram: já estou uma pro na aplicação Zoom, já aprendi a fazer testes para serem feitos pelos alunos online, como se fossem formulários e já revi as aulas que tinha preparado e reformulei-as para a versão online. Já ajudei colegas de profissão a inteirar-se coma aplicação.

Já comecei um segundo livro; já limpei o pó a zonas da casa mais negligenciadas; não fui a nenhum museu esta semana; tenho estado ao sol, todos os dias nem que seja por 30 minutos; já consegui concluir a 2ª temporada de Big Little Lies; já falei com alguns amigos; já estive numa fila de supermercado - mas só mesmo para ir para a caixa; já fiz exercício físico, pouco e limitado à casa ou aos vídeos da UPFIT; já vi um documentário (The Biggest Little farm); já vi 3 tutoriais sobre  pintura em aguarela e sobre Monet e a sua técnica  que criou em mim a expectativa de ser capaz de concretizar aquele resultado final  se ao menos tivesse tintas e papel/tela - será que no LIDL ainda há esse material? Quando perceber que não tenho jeito nenhum para a arte posso sempre tentar algo como arte para totós.

Já vi mais umas quantas séries e vários episódios das mesmas (DEVS, THE OUTSIDER, POLLDARK). Já vi filmes pouco interessantes e outros interessantes-  The Invisible Man não está mau. E outros filmes e séries seguir-se-ão porque o trabalho deve abrandar nestas duas semanas.

Hoje já tive uma reunião online com professores, já fiz mais umas quantas avaliações e devo - se bem me conheço - avançar ainda com mais algumas este fim de semana - pois para uma das escolas o 2º período só acaba dia 31 de março.

Eu referi que o trabalho ia abrandar, não disse que ia parar totalmente!

Entretanto, milhares de pessoas morrem todos os dias, a fome já começa a sentir-se em alguns países devastados pelo Covid-19, devido à falta de bens nos supermercados. Há já casos de assaltos a supermercados e as pessoas estão a tornar-se violentas (na Índia). A xenofobia agrava-se e os estrangeiros são vistos como causadores da desgraça. Há relatos de mudanças nas medidas de contenção do vírus, um pouco por todo o mundo, estados que anunciam o lockdown, e um ou outro comentário parvo por parte de líderes. Há pessoas que desesperam por causa da crise no setor do trabalho. Há pessoas que conheço que tem familiares infetados. Há pessoas que afirmam que agora é o momento para repensar a vida que levamos - pergunto-me se depois de isto tudo passar, não voltaremos aos velhos hábitos.

Entretanto, a vida continua!

P.S. Monet pintava a óleo e para terminar uma tela precisava de deixar que a tinha secasse - a primeira camada da tinta, pois o óleo nunca seca verdadeiramente (so I'm told).

Pintava um pouco e depois abandonava a sua tela incompleta e ia dar um passeio pelos jardins em Giverny enquanto a primeira camada da tinta que colocara secava.

Será que é isso que temos que fazer? Abandonar a nossa "tela" por algum tempo para depois a retomar, dando-lhe mais definição, mais detalhe, mais cor, mais vida?...

Claude-Monet-2.jpg

 

 

Ponto de situação - 1ª semana

Caro Leitor,

Segunda-feira de manhã - cumprimento de horário na escola; após o almoço todos os professores puderam regressar a casa até tempo indeterminado, pelo menos até ao fim da pausa da Páscoa!

Segunda até sexta - já corrigi testes de uma turma; já fiz as avaliações de algumas turmas e já preenchi as cruzinhas em muitos relatórios de avaliações; já consultei sites, vi vídeos, elaborei/procurei fichas no meu arquivo para enviar para os alunos; já enviei tarefas aos alunos mais velhos por email, e aos mais novos pela ClassDojo (aplicação que já usávamos); já corrigi uma catrefada de pequenos trabalhos e para cada um elaborei um breve comentário individual; (faltam-me agora os trabalhos mais complexos); já respondi a dúvidas de pais; já testei as aula online, a começar na próxima semana, para os alunos mais velhos através do Zoom.us, com a ajuda de outros professores; já li mais de 500 mensagens relativas ao trabalho, mandei 1/10 delas e já carreguei 5 vezes o meu telemóvel; já fiz decerto outras tantas coisas que não me lembro sequer... Trabalho mais agora do que dantes - é que dantes tinha uns intervalos, muitos deles a conduzir de uma escola para a outra, e aqui em casa nem isso!

Já li um livro; já arrumei um armário e reorganizei o escritório; já percorri algumas galerias do Musée d'Orsay em Paris; já estive ao sol; já consegui concluir a 1ª temporada de Big Little Lies; já falei com alguns amigos; já limpei a casa; já estive numa fila de supermercado; já lavei o carro; já fiz dois bolos; hoje está a chover mas ainda não consegui sentar-me à janela a ver a chuva cair (mas como chove nos próximos dias, não devo ter problemas em arranjar um tempinho para a contemplação); só o exercício físico é que nem vê-lo.

E agora vem aí o fim de semana. Vou desligar a net no telemóvel para não ver mensagens de trabalho que me obriguem a trabalhar também no fim de semana. But old habits die hard, (quando foi a última vez que não trabalhei ao fim de semana?) e não sei se vou conseguir até porque tenho que preparar as aulas online da próxima semana e procurar certificados de formações (nem vou explicar!), e preparar novas tarefas para os alunos. Gosto de me adiantar no trabalho, mas a verdade é que me adianto e no dia a seguir tenho mais trabalho do que o previsto!

Acho que o melhor é ir preparar as aulas online agora para ver se sossego no fim de semana. É que a partir de segunda recomeça tudo!

Coronavírus, a quanto obrigas!

P.S. Entretanto no mundo morrem mais pessoas, cada vez mais casos de contágio, e ainda assim alguns governantes permanecem impávidos e serenos, mesmo com a previsão negativa que paira sobre as economias mundiais. 2020 não vai ser pêra doce para ninguém!

 

The day our country stood still

Caro Leitor, 

Se não reconhecer a graça do título, não se preocupe. É apenas uma graça.

Hoje o nosso país parou para ouvir o primeiro ministro discursar sobre o estado da nação. O país parou para ouvir o que há algum tempo ansiava ouvir, para constatar que  algumas das suas piores previsões se tinham realizado.

Espera-se que o país tenha parado para refletir sobre comportamentos passados e se apronte a repensar os comportamentos que necessitam de serem mudados (país e população). 

Espero que esta paragem não tenha um impacto tão negativo como se pensa, para o país e para a população.

Espero que com esta paragem possa aproveitar para respirar e desacelerar o ritmo maluco que me obriguei a manter ao longo destes anos. Espero que consiga respirar nesta paragem obrigatória para o meu sector de trabalho: a educação. Espero - porque não sei se o trabalho que deveria fazer nestas próximas semanas terá que ser compensado de uma outra maneira (a minha costela pessimista imagina já trabalho extra em julho e agosto). Espero que finalmente tenha tempo para pôr todas as minhas leituras em dia, para ver todas as séries que todos recomendam, para dormir e comer bem, para praticar mais exercício físico, para acordar bem disposta e com tempo para saborear pequeno-almoço com vista para uma manhã ensolarada, para educar a minha mente, para falar com amigos nem que seja por telemóvel, para planear aulas, corrigir testes,  elaborar avaliações, rever trabalhos e projetos, repensar estratégias.

I know, I know, estava a ir tão bem...

ESPERO.

Espero que neste descanso forçado mas necessário não fique doente - não há nada pior do que ficar em casa porque se está doente. Bem, talvez haja, mas espero que perceba a graçola.

P.S. Espero que a pandemia se possa resolver o mais rapidamente possível. Um abraço virtual para todos aqueles cuja vida se tornou ou se tornará  mais difícil com o Coronavírus. Um beijinho virtual também para as crianças que até à hora (23.34) se encontram retidas numa escola da Maia.