Na senda dos miradouros
Caro Leitor,
Em tempo da Covid-19, farta de estar por casa, farta do trabalho acrescido do teletrabalho (ou pelo menos das aulas síncronas e aulas assíncronas) e não querendo arriscar a minha saúde ou a dos outros - afinal fiz o teste nos inícios de junho para poder regressar ao trabalho, por iniciativa da câmara onde se localiza uma das escolas onde trabalho e à qual teria que regressar em junho e não queria deitar a perder o resultado negativo que tanto me custou a obter - decidi pesquisar algo para visitar que fosse remoto.
Numa dessas pesquisas deparei-me com o Miradouro de Picote (ou da Fraga do Poio). Situado na pacata aldeia de Picote, este miradouro fez-me lembrar os que visitei na Galiza no ano anterior (Páscoa na Galiza). Um miradouro é um lugar de contemplação e de admiração e de paz. Em todas as minhas viagens procuro pelo menos um. Aliás, basta ver a minha carta sobre a ilha de S. Miguel para ver quanto adoro miradouros ( Viagem a São Miguel ). Procurei miradouros na Irlanda, na Croácia, em Praga, na Alemanha, na Itália, e procuraria miradouros na minha próxima viagem que entretanto adiei até ao próximo ano, mas isso é material para uma outra carta.Pareceu-me não só bonito, como uma belíssima estratégia para atrair visitantes a esta parte do nosso país, no passado mais negligenciada. Assim sendo, a rota levar-me-ia até Miranda do Douro, mas porque gosto de optimizar o meu tempo e sendo uma viagem longa (274 km) teria obviamente que fazer render o gasóleo. A minha pesquisa subsequente levou-me a muitos mais miradouros, naquela região e a caminho, alguns dos quais com acesso mais limitado e outros com vistas menos deslumbrantes, pelo que me decidi por uma mão cheia deles e por uma breve visita ao centro de Miranda do Douro.
- Miradouro do Ujo
- Miradouro Olhos do Tua
- Miradouro de São Lourenço
- Miradouro de Picote
- Miranda do Douro (Catedral de Miranda do Douro - onde se pode ver um menino Jesus muito especial, o menino Jesus da cartolinha - e as Ruínas do Paço Episcopal)
Depois de uma pesquisa eficaz no googlemaps (instrumento essencial nas minhas viagens. nacionais ou internacionais), determinei que o primeiro miradouro seria no município de Alijó, na freguesia de São Mamede de Ribatua, na estrada nacional 596 entre São Mamede de Ribatua e Safres. As indicações de qualquer GPS levam-nos lá, aliás é o miradouro da lista que melhor acesso tem, situando-se na berma da estrada. Quem vem do Porto e o encontra à direita deve estacionar 20 metros antes, na berma da estrada também.Foi aqui que encontramos mais pessoas: 7 no total. Eram 10 horas quando lá chegamos.
Este miradouro é uma escada que se ergue para os céus , pensamos nós, mas que quando ousamos subir os seus degraus depressa nos apercebemos que os céus também podem ser terrenos. A paisagem é deveras muito bonita e o Rio Tua num abraço suave envolve as montanhas, as árvores e as vinhas.Tem uma mesa com uns bancos, para otimizar esta experiência de deleite.
Inaugurado em maio de 2019 é apenas um de muitos que farão parte da rota de miradouros que o município de Alijo está a criar.
No caminho que nos levaria a mais um, a paisagem continua a deslumbrar e sempre que surgia um ponto propício, estacionavamos o carro para tirar uma fotografia.
O próximo, já no município de Carrazeda de Ansiães, foi o mais silencioso. Não encontramos ninguém por lá, só mesmo um velhote que talvez de lá viesse mas que se dirigia para casa. Para lá chegar terá que passar por uma pequena povoação. Não tenha medo das ruas apertadas - o GPS não o deixará ficar mal.
O Miradouro Olhos do Tua fica num local estratégico e garanto-lhe uma boa surpresa.
A pequena plataforma que se ergue passa despercebida e quase que engana o visitante.
Mas a vista é mais uma vez deslumbrante!
Depois fomos ao encontro do Miradouro de São Lourenço, que apesar de ser o que menos nos delicia, não deixa de sobressair pela estratégia usada. O recorte fica bonito numa fotografia!
Depois do almoço, dirigimo-nos para o miradouro que tinha iniciado esta senda. A aldeia de Picote era o destino e foi muito fácil de a encontrar. Estacionamos mesmo em frente à casa de turismo rural e começamos aí a caminhada de 300 metros que nos levaria a um miradouro que nos encheria a vista e o coração.
Um caminho agradável com vistas desafogadas, mas já com um sol bem quente, com elementos que nos lembravam que estavamos em território do mirandês e com outras surpresas: aqui existe uma biblioteca gratuita - ou melhor uma estante com livros num espaço onde os bancos convidam à leitura num dia de menos calor. Estava muito calor e livros não havia - de certo estavam numa outra estante mais assombrada.
Depois a vista que se abre perante nós mas que não desvenda tudo de uma só vez. Temos que nos aventurar e ir mais um pouco além.
Do outro lado o território espanhol, lembrando que este tesouro com nome apropriado não é só nosso. Aqui, encontrará um terraço com uma vista grandiosa e dois bancos que em dias de maior afluência pouco descanso terão. Uma plataforma em vidro que testará os menos corajosos e um arqueiro desenhado na pedra que eu não consegui perceber onde se esconde - penso que está numa fraga do lado direito. A beleza do miradouro fez-me esquecer o tesouro escondido.
O calor apertava e por isso não ficamos por ali muito tempo. De volta ao carro, desta vez rumo à cidade de Miranda do Douro. Aqui poderá visitar a catedral e o menino Jesus da cartolinha e quando as obras acabarem poderá também visitar as ruínas do Paço Episcopal.
Também poderá ver o Douro num outro miradouro por detrás da catedral
e atrever-se a subir a muralha que tardiamente me apercebi que poderia ser visitada. Esta muralha permite-lhe de certeza uma vista sobre o Douro e sobre a cidade que deve merecer a pena.
E bora que já se fazia tarde e o destino ficava a quase 300 km de distância e o dia seguinte era dia de trabalho.
Valeu a pena o passeio, mas aconselho a ver estes miradouros e outros que a região oferece - e são bastantes - se estiver já na região. Assim poderá também fazer um passeio de barco pelo Douro - 18 euros - procurar o Aqueduto de Vilarinho, entrar na catedral, subir à muralha e ainda ver o Miradouro de São João das Arribas e a ermida ou procurar a aldeia construida por causa da central hidroelétrica de Picote (Conjunto Habitacional da Central Hidroelétrica de Picote) que chegou a albergar 6 mil pessoas. Nós só conseguimos ver a igreja. Há afinal muito para ver neste pedaço de território português.