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Letters and words

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Escócia - dia 5

Glencoe - The hills are alive and green

Caro Leitor,

Se este dia tivesse uma cor, seria verde. Verde escuro, verde claro, verde musgo, verde oliva, verde limão e verde esmeralda. Quase todas as tonalidades de verde podem ser encontradas nos lugares deste dia.

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Se este dia tivesse um sentimento, seria surpresa. Qualquer outro sentimento não será tão grandioso quanto este num lugar mágico como Glencoe. Mas adianto-me e ainda não relatei o começo do dia.

O dia começou bem. The sun was shining, that sort of the thing!

Saímos cedo, tínhamos ainda de visitar dois lugares que não conseguíramos no dia anterior e era necessário abastecer o carro. Muito importante para quem viagem pela Escócia, principalmente pelas Highlands ou pela Ilha de Skye. O carro deve estar cheio, ou quase, sempre que inicia o dia, para que não surjam surpresas desagradáveis. Os postos de abastecimento nestes lugares são escassos e distantes entre si.

Chegámos a St. Conan's Kirk na vila de Lochawe antes das 9h (uma viagem de 30 minutos /30 km apenas) e sim o sol continuava a brilhar. Estacionámos no pequeno parque mesmo junto à entrada, talvez apenas para 10 carros, mas acredito que consiga sempre lugar. A igreja estava deserta, uma vantagem de chegar a estes locais tão cedo.

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Entrámos pela porta vermelha, não esta que se vê na foto, uma porta vermelha lateral que abre para um pequeno claustro - à direita desta foto. Uma bonita surpresa esperava-nos dentro.

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Encontrámos estes amiguinhos por lá.

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Esta igreja é lindíssima no seu exterior e o lugar onde se localiza é deveras surpreendente pela beleza - a vila onde se encontra não poderia ter melhor nome Lochawe - loch(=lago) awe (=espanto/admiração). Na verdade Awe é o nome do lago, um corpo de água calmo mas que suscitará admiração no visitante. A igreja está situada nas margens do lago, perfeito lugar para a contemplação, exterior e interior. Por isso, antes das vistas que se escondiam por detrás dela, tínhamos que descobrir o seu interior.

O lado norte da igreja é bastante simples mas o seu lado sul, aquele virado para o lago é mais elaborado. Esta igreja é uma caixinha de surpresas e continua a surpreender-me. Para a escrita desta carta, fui pesquisar um pouco mais sobre a igreja e aparentemente possui quase todos os estilos arquitetónicos encontrados em edifícios do género. A igreja fora um desejo e uma visão de Walter Douglas Campbell que se terá instalado numas das ilhas próximas e que precisava para si, para a sua mãe e irmã, de um local de culto mais próximo. Desse desejo nasce a igreja, repleta de influências e de lembranças da sua família. A irmã acabaria o seu projeto após a sua morte e nela podemos ver alguns traços artisticos da irmã, como por exemplo as janelas.

A torre quadrada é saxónica. No telhado encontramos 3 gárgulas, um coelho correndo atrás de 2 lebres. Os contrafortes são góticos e a cruz é céltica. O arco sobre a porta para a igreja é normando.

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Faz lembrar uma porta do Senhor dos Anéis ou do Harry Potter.

A atenção aos detalhes é impressionante e se não investigar primeiro perderá muitas destas descobertas. No interior encontra-se o túmulo do criador

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e uma janela com a forma de uma estrela que se vê nesta foto em baixo.

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Esta janela deixa entrar a luz solar que cai precisamente na face de Walter Douglas Campbell. Que lindo! Digno de um livro de Dan Brown!

Ainda tivemos a igreja só para nós durante algum tempo, daí que tenha imensas fotos sem nenhum turista por perto, o que nos dias de hoje é quase um milagre. No entanto, se quiser remover alguns turistas inusitados das suas fotos pode experimentar o site PhotoRoom - já usei e o resultado é bastante satisfatório.

A igreja tem um lado muito luminoso. Aproveite a luz matinal junto ao semicírculo e tire várias fotos e selfies. Ficarão espetaculares. Em todas, estou verdadeiramente "iluminada" .

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Até parece que consigo ver Cersei, da Guerra dos Tronos, a olhar pelas janelas.

Também encontrará por aqui uma homenagem a Robert the Bruce entre outras maravilhas,

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mas antes de sair não se esqueça de olhar com atenção para a nave e para cima. Provavelmente já não voltará a entrar quando sair, optando por sair do local pelo jardim.

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Uma vez no exterior, deixe a calma entrar em si, maravilhe-se com o lago e com o relógio de sol

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que, aparentemente, terá mudado de lugar umas sete vezes tal era o sentido de precisão de Walter Douglas Campbell. Maravilhe-se também com a arquitetura deste lado sul.

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Saia pelo jardim e deixe-se encantar pelo pequeno pássaro que decerto o abordará.

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1 hora bastará para ver tudo o que esta igreja tem para oferecer, em detalhe,  e com sorte, sem turistas por perto. Explore os jardins para obter excelentes fotos do lado sul da igreja.

3 km depois encontrava-se a próxima paragem: o Castelo Kilchurn. Há um parque enorme, o que parece querer dizer que há muitos turistas por aqui. Como chegámos ao castelo antes das 10 horas, depois de uma caminhada de 15 minutos, só vimos por lá uma caravana.

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O passeio é agradável porque temos quase sempre a visão do castelo, mais bonito ao longe do que ao perto por sinal.

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Encontrámos por isso o castelo deserto e quando demos a volta encontrámos o outro turista da caravana.

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Um escocês que viajava com o seu cão. Tinha vindo visitar os parentes da mulher e deixara-a em casa dos mesmos para se aventurar por estas terras. Tinha estado a mergulhar no lago frígido minutos antes, como nos alertou. Teria sido uma bela fotografia, ou não. He was swiming butt-naked.

Acompanhou-nos até ao parque de estacionamento e fomos trocando rotas passadas e futuras. Se trouxer um amigo de 4 patas para aqui não o deixe à solta. O escocês foi relembrado disso por um conterrâneo, dono do campo circundante ou dos animais que pastam por ali. O escocês da caravana bem que se desculpou várias vezes mas o escocês dono das ovelhas estava bastante irritado e insistente. Não diga que não o avisei.

Depois começava a aventura por terras de gigantes. Iríamos entrar no Glencoe /Glen Coe Valley, um vale de origem vulcânica, considerado um dos lugares mais bonitos da Escócia (concordo) e lar do montanhismo escocês e por isso muito popular ente montanhistas e amantes de caminhadas. Li algures sobre a sua grandeza sombria e acho que é esta expressão que melhor descreve este vale em forma de v. As suas montanhas selvagens e gigantes barram a luz solar tornando este vale assombrado, nos dois sentidos.

O caminho para lá já deixa antever o que nos espera e mesmo de dentro do carro consegue fotos lindíssimas.

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Pelo caminho passará por Bridge of Orchy - uma estrada na qual quer ter à mão a sua máquina fotográfica ou telemóvel. Quererá de certo parar para absorver tudo melhor.

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IMG_20220801_110613.jpg Aqui fica uma pequena amostra com movimento - era uma daquelas estradas longas onde tudo era gigante e que por mais que andássemos parecia que o horizonte nos escapava sempre...

Glencoe

Quando vir uma montanha imponente, marcada pela rocha, será decerto Buachaille  Etive Mòr. Uma montanha reconhecida pela sua forma piramidal alerta-o para o facto de que está perto de entrar no vale.

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Talvez tenha exagerado na quantidade de imagens desta zona e em particular de Buachaille Etive Mòr mas toda esta paisagem é tão bonita e grandiosa, ou deverei dizer gigantesca, que ainda que saiba que as imagens não lhe façam justiça gosto de deixar aqui o meu testemunho.

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Depois de passar a ponte sobre o Rio Etive pode optar por desviar-se à esquerda, por uma estrada estreita. Se continuar durante 6 km estará na mesma estrada que esteve Daniel Craig e a Dame Judi Dench aquando das filmagens de Skyfall. Conseguirá reconhecer o spot, menos 100 metros, mais 100 metros, give or take. Fizemos o desvio e apesar da estrada ser bonita, estreita mas bonita, só deverá fazer se for um hardcore fan da saga 007.

Se não optar por seguir este desvio, siga sempre em frente. Não tem nada que enganar.

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A paisagem vai ficando mais verde até encontrar esta casinha no meio do nada, tornada famosa no instagram. Avance ou pare para tentar tirar uma foto similar à do instagram se quiser. Mas avance logo a seguir. Também encontrará por aqui um ski resort para os amantes dos desportos de inverno.

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E a paisagem enverdece à medida que se embrenha por Glencoe.

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Uma cascata com direito a miradouro.

E depois as três irmãs surgem inesperadamente. Como são tímidas e não se apresentam, poderão passar despercebidas.

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Estas três irmãs são 3 picos de uma montanha e são os mais fotografados de Glencoe.

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Podem subir a estes picos ou pelo menos parte desta montanha mas têm um elevado grau de dificuldade.

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A descida por este vale leva-o calmamente até Glencoe e antes de sair do vale encontrará outra casa branca, similar à outra, no sopé da montanha, também ela fotografada várias vezes. Continue a descer até Ballachullish. Almoçamos por lá, com vista privilegiada para o Loch Leven. Estava frio. Antes de chegar a esta localidade tinha se instalado um nevoeiro sinistro e apesar de se ter dissipado quando chegamos às margens do lago. o frio ainda se fazia sentir. Mas nada que nos dissuadisse de um piquenique com vista para o lago.

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Depois seguimos para ver Stalker Castle. Seria um desvio de 20km, voltaríamos a passar por ali para rumarmos em direção a Ben Nevis e ao nosso hotel.

É um castelo numa pequena ilhota pelo que precisar de ir de barco para o visitar, mas segundo as minhas pesquisas demasiado caro. Além disso, é mais interessante de longe. 

Na rotunda Ballachulish, não seguimos pela direção Fort William e sim na direção Oban , Argyll Coastal Route.

Seguindo nessa direção, verá a indicação Castle Stalker view Café & Giftshop. Como não sabíamos ao certo onde teríamos que estacionar, julgamos que não encontrariamos melhor indicação para ver o castelo. Well,... Depois de um café, ou chocolate quente (don't judge! - eu sei que era verão mas soube muito bem) na roulotte estacionada junto à giftshop seguimos as poucas pessoas que se aventuravam a sair daquele sítio quentinho e cheiroso. Uns meros metros levaram-nos a uma escultura e a um banco, já com vista para o castelo. Mas esta vista era demasiado afastada e, como verdadeiras aventureiras (ma friend Fernanda I'm talking about you), seguimos um caminho de cabras, ladeira abaixo, pequena ladeira mas com muita vegetação alta que mais nos fazia ansiar por uma machete (exagero, talvez, mas só um pouco)... Terreno relativamente inclinado, lamacento, que nos levava não sei bem aonde sem ninguém à vista, só mesmos nós. Atravessámos um pequeno riacho, saltando de uma margem para a outra - talvez apenas uns 50 cm entre uma margem e outra,  mas num terreno lamacento mais que convidativo a acidentes todo o cuidado é pouco. Eu que o diga que me lesionei no ano anterior em terreno parecido. Ninguém se magoou - um copo de café caiu ao chão, botas ficaram todas lamacentas e alguém quase que caiu ao ribeiro no regresso. Infelizmente não há vídeo desses momentos.

200 metros depois da roulotte, por terreno inóspito, encontrámos uma melhor vista do castelo. Deverá haver um outro lugar melhor, decerto. Mas contentámo-nos com aquele, afinal ainda tínhamos uma montanha para escalar.

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Fizemos inversão de marcha com sorrisos nos lábios depois de tanta aventura em apenas 10 minutos. Direção a Fort William e ao nosso castelo.

Chegamos ao hotel antes das 15 horas. O plano era seguir para a montanha Ben Nevis. Metade do grupo foi fazer um pouco da montanha - toda seria impensável. É o ponto mais alto do Reino Unido, com quase 14000 metros de altitude e os seus 17km de percurso fazem-se no verão em 7-9 horas. Eu, resguardei-me um pouco, na esperança de não agravar a minha lesão e de poder ainda subir as outras duas montanhas.

Há dois caminhos para chegar ao topo de Ben Nevis, mas os turistas geralmente vão pelo "Pony track". Encontrarão informação útil sobre o percurso neste site se decidirem subir a montanha:Ben Nevis .

Aqui fica uma foto para exemplificar parte do caminho.

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Descansámos e até vimos um pouco de televisão: no dia seguinte iríamos para Skye e encarei o programa de televisão que transmitia uma reportagem sobre Skye e sobre The Old Man of Storr como um bom prenúncio!

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Este dia foi fantástico! Mas os próximos seriam ainda melhores!

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