Viagem a São Miguel - parte 1
Caro leitor,
A presente carta, dividida em partes, não tem qualquer intenção de ser um roteiro sobre a ilha de São Miguel. Nasce de uma lacuna sentida em setembro do ano passado quando comecei a procurar informação sobre a ilha de São Miguel. Os sites e blogues que encontrei, ainda que me tivessem ajudado imenso na recolha de informação sobre esta ilha, não possuíam toda a informação que buscava, fosse ela indicações até algum local específico, tempo despendido num percurso, lista de melhores miradouros, praias, sítios a não perder em cada concelho ou mesmo dicas para melhorar a experiência na ilha.
O objetivo desta carta é, por isso, capturar num único lugar informações relevantes para um turista que visite a ilha pela primeira vez, ou que a revisite. Espero que seja útil para alguém.
Nesta primeira parte ficam as dicas:
- Pesquise. Mesmo que já tenha as informações necessárias, mesmo que tenha um bom guidebook. Espreite o site http://solagasta.com/category/portugal/acores/ribeira-grande/, o meu preferido já que gosto de percursos pedestres e que me motivou ainda mais para esta viagem e espreite o seu canal de youtube https://www.youtube.com/user/solagasta/videos?view=0&sort=dd&flow=grid&live_view=500.
- São Miguel possui seis concelhos (Lagoa, Nordeste, Ponta Delgada, Povoação, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo). Embora seja necessário, quando possível, despender um dia para a maioria dos concelhos - mesmo se não tiver de fazer nenhum percurso -, concelhos como Lagoa e Nordeste, ainda que bonitos, poderão ser vistos em algumas horas.
- Faça um plano do que quer ver em cada concelho, mas esteja aberto/a à possibilidade de ter que rumar a outro concelho por causa do tempo instável. O interior da ilha e o Nordeste poderão ser as áreas mais susceptíveis a esta instabilidade.
- Embarque no primeiro barco para o Ilhéu de Vila Franca do Campo (mas chegue ao cais com bastante antecedência) e prepare-se para ficar lá o dia todo. Ainda que vá só por uma manhã, quando lá chegar, não vai querer sair, por isso leve provisões. Nade e suba às rochas, aprecie a vista, "swim some more" e tire fotos.
- Visite as diferentes plantações da ilha (ananás, chá, tabaco,...), mas prepare-se para uma possível, repito possível, decepção na Fábrica do chá Gorreana. Sugiro que a visite - mesmo assim, mas que faça, pelo menos, parte do trilho da rota do chá, que passa pelos campos de chá. Talvez assim as suas espetativas não saiam logradas.
- Não deixe de ir até à piscina natural da Ponta da Ferraria, mas é imperativo que espere pela maré vazia. Só assim conseguirá sentir a água quente. Eu cheguei na hora da maré cheia (confiante que continha a informação correta retirada de vários sites) e já não tinha pé na piscina natural, a água era morna e as ondas eram tão fortes que as pessoas andavam quase sempre agarradas às cordas. Cuidado com o sol escaldante nas rochas e com a escada traiçoeira da piscina - vi um pai escorregar nas escadas com uma criança ao colo quando as descia e vi uma jovem bater com o queixo quando escorregou ao subir.
- "When in Rome, do as the romans do". Compre produtos locais que são bem em conta em relação aos do continente (leite dos Açores, e seus derivados, fruta e vegetais da ilha/s, prove a massa sovada, o bolo lêvado - delicioso - a queijada de Vila Franca do Campo - demasiado doce, para mim). Experimente os diferentes peixes (experimentei o peixão grelhado e gostei) e o bife micaelense ou à regional (gostei da qualidade tenra e macia da carne). Se gosta de picante, experimente a "pimenta da terra", condimento muito usado para temperar tudo (inclusive o bife à regional), mas também para acompanhar queijo fresco. Experimente o cozido das furnas, mas se já estiver habituado a um cozido continental, não espere algo muito diferente (não sabe a enxofre, como muitos alegam, mas no restaurante onde o comi - Tony's - as doses para quatro pessoas vieram numa única travessa onde metade era ocupada pelas batatas e vegetais e não estava quente - preferia ter pago mais por uma dose melhor).
- Reserve o cozido previamente num restaurante. Saiba a que horas o seu restaurante estará no local para desenterrar o cozido. Se for ao almoço, será por entre as 12h e as 12h30.
- Se aproveitar as viagens low-cost, pense na possibilidade de levar uma mala extra, especialmente quando a sua estada se estende por 1 semana ou mais. Há sempre algo que vai querer trazer consigo.
- Se for visitar mais do que uma ilha, pense na possibilidade de aproveitar as viagens gratuitas através do programa de reencaminhamento inter-ilhas (para isso, terá que dar entrada nos Açores por uma ilha que não a sua ilha de destino e efetuar o tal voo gratuito para a ilha de destino num espaço de 24 horas - perfeito se quiser visitar uma ilha mais pequena em menos de 24h - http://encaminhamentos.sata.pt/; http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/srtt-drt/textoImagem/Transporte+A%C3%A9reo+de+Passageiros.htm)
- "Shop around". Se gostar de bons preços, busque e busque e não se contente com a primeira loja que aparecer. A título de exemplo, pode encontrar postais a 35 cêntimos, ímanes para o frigorífico mais baratos que os habituais 2,5 euros numa lojinha perto do tribunal em Ponta Delgada. Na loja gigantesca em frente à marina (tem uma vaca à entrada), os postais também têm um preço acessível mas tudo o resto é isco para o turista estrangeiro.
- Dedique tempo a visitar algumas das igrejas desta ilha: os seus altares são, na maioria, elaboradamente trabalhados e surpreendentemente bonitos.
- Visite alguns dos jardins, pagos ou os grátis.
- Prefira o comboio turístico ao autocarro turístico. O primeiro possui 5 percursos, quase todos por dentro da cidade, cada um a 5 euros. O segundo custa 10 euros, dura mais ou menos uma hora, mas à exceção de pequenas informações como a explicação de um monumentos, a localização da fábrica de açúcar e a antiga fábrica de tabaco das estufas dos ananases, e algumas curiosidades, como a indicação da terra do Pauleta, a viagem que efetua pela periferia não é nada de espetacular.
- Não tenha medo de estacionar em Ponta Delgada. O estacionamento pago é barato.
- Passeie por algumas das freguesias. Eu escolhi algumas da cidade da Ribeira Grande.
- Pare, escute o sotaque micaelense e converse com as simpáticas gentes, nem que seja para pedir direções. Foi numa conversa para pedir direções que descobri a palavra "canada" (rua) e numa outra que descobri a razão das flores espalhadas pelas escadas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
- Esqueça-se do passar do tempo em alguns dos lugares, aqueles que realmente gostou. Evite dizer que vai lá voltar noutro dia. Isso raramente acontece. Por isso, pouse a câmara e aproveite para desfrutar da paisagem que está à sua frente.
- "Do it yourself" - faça o seu próprio roteiro/ texto/registo sobre a SUA viagem com dicas, curiosidades, informações, aventuras e desventuras.
- Divirta-se e aproveite o fato de estar perante tanta beleza imaculável.