Bailinho (e sempre a girar)
Caro Leitor,
dia 4,13 de junho
Vereda dos Balcões - finalmente. O dia estava solarengo e as chances de termos visibilidade total lá para os lados de Ribeiro Frio eram encorajadoras. No caminho para lá, a floresta laurissilva saudava-nos.
De volta ao café, onde reencontrámos o amável senhor desta vez ao sol (sentado do outro lado da estrada num murozito que abraçava a curva), para uma paragem curta.
Estacionámos ao virar da curva. Eram 9h30 e ainda se encontravam lugares para estacionar, mas já havia pessoas a regressar do percurso. O percurso de 1,5 km é muito fácil de ser feito, praticamente ele todo plano, tirando os últimos metros que são em declive - ideal para famílias.
Partimos. Embrenhámo-nos na floresta laurissilva enquanto seguimos o percurso e a levada, carregados com a ansiedade de chegar ao destino e comprovar ou não se valera a pena.
Pelo caminho surgem surpresas: uma loja de produtos artesanais com uma esplanada fantástica que convidava a sentar e perder algum tempo por lá,
uma "janela" que se abria para a paisagem,
uma casa perdida no meio do nada
e um banco que convidava à contemplação - eu sei que estou a olhar para o telemóvel na fotografia mas seria certamente para tirar um foto que fizesse jus à beleza e serenidade do local.
Logo a seguir um caminho que se esconde, mas que de certo não nos fará perder.
Poucos metros depois a floresta adensa-se e começamos a descer até uma rocha enorme que esconde parte da beleza do que virá.
Ao contornar a rocha, abre-se a vista no balcão, literalmente.
O balcão/pátio avarandado proporciona uma vista impressionante. Impressiona saber que depois de 1,5 km de floresta palmilhada se desemboca num sítio que parece secreto. Só ao contornar a rocha é que temos a verdadeira visão do que o miradouro oferece. Aqui encontrará um ponto ainda mais alto para poder observar o miradouro e tirar fotos da paisagem de um ponto mais elevado. Daqui poderá ter a sorte - se o tempo o permitir - de ver os Picos Ruivo e o Arieiro e a Penha D'Águia.
No regresso, uma outra perspetiva. O mesmo percurso, mas sentido inverso. Regressámos sábios, mais conhecedores do que aqueles que se cruzam no nosso caminho mas em sentido oposto. Voam pelo ar diálogos breves inaudíveis captados apenas pelas trocas de olhares tímidas entre os caminhantes em sentidos opostos:
"- Então, ainda falta muito?"
"Não, já estão perto."
"- Vale a pena?"
"-Claro!"
Agora, surgem grupos aos magotes e as fotos tornam-se escassas tal é a raridade de só nelas capturar a natureza serena.
Terminado o percurso, dirigimo-nos novamente para Santana para ver as casinhas (e a sinalética!).
Não vimos as casinhas. Santana estava em festa e o trânsito estava condicionado, o que dificultava a busca. Mas vimos uma amostra do folclore da região e ainda encontramos uma casa típica de Santana, mas desta vez totalmente habitável.
Rumo ao pico mais alto da Madeira: Pico Ruivo.
Aqui encontrará um amplo parque de estacionamento e vistas de 360º sobre o que o nevoeiro deixar ver. Aqui, à semelhança do Pico do Arieiro, as formações montanhosas enchem-nos a vista com todo o seu esplendor...
e o nevoeiro não nos larga.
Daqui poderá partir à aventura em direção ao Pico Ruivo num percurso de 2,8 km ou, se sentir muuuito aventureiro, seguir em direção ao Pico do Arieiro.
Ambos os percursos devem ser fantásticos... Ainda fiz uns metros para ver se conseguia obter vistas diferentes para captar com a máquina fotográfica.
Por volta das 15h30 estávamos em Arco de São Jorge, um pitoresca freguesia de Santana.
Depois o percurso levou-nos pela velha estrada ER101. Já sabia de antemão que valeria a pena percorrer esta estrada, mas não fazia ideia dos perigos. Ainda bem que não era eu a conduzir. Tente, caro leitor, imaginar o seguinte cenário: estrada muito estreita com curvas e contra-curvas esculpida na falésia. Do lado direito, o mar, do lado esquerdo a escarpa rugosa. Se a estrada já é estreita, imagine agora dois carros seguindo em sentido contrário numa curva apertada. Não tenho foto do momento, mas podia, se quisesse e não fosse o senhor um turista reformado estrangeiro, apertar a mão do condutor do veículo que circulava em sentido contrário - e olhe, caro leitor, que tenho alguma dificuldade em esticar a mão para carregar nos botões dos parques de estacionamento cobertos, e para pagar nos postos de abastecimento...
Não tenho a foto do momento, mas tenho uma foto onde se vê a dita estrada, ainda que no sítio onde nos cruzámos com o turista estrangeiro - estrangeiro pois ainda comunicámos qualquer coisita tal era a proximidade entre os dois veículos - a estrada fosse ainda mais estreita.
Se tiver curiosidade pesquise no universo cibernético a estrada ER101 e veja fotos fantásticas ou então aproveite este link que encontrei enquanto escrevia esta carta: ER 101. E sim, é uma estrada de dois sentidos...
Depois seguimos caminho por São Vicente até à Ribeira da Janela onde parámos pois nos pareceu interessante. Não sabíamos que iria estar um vento frio que nos afastaria dali rapidamente.
No fim do dia, ainda houve um tempo para um banho de sol de fim de tarde e para molhar os pés.
Carregados de experiências, regressamos cansados ao hotel.
No dia seguinte ainda haveria tempo para uma visita rápida e uma despedida afetuosa a esta ilha maravilhosa.
Mas isso será para a próxima e última carta desta série dedicada à ilha da Madeira.