Escócia dia 6 Wizards and witches, trains and rain
Caro Leitor,
The day started bleakly or at least the day was bleak.
Seria assim que inciaria esta carta se a escrevesse em inglês. O adjetivo bleak é melhor do que o seu equivalente em português para mostrar o quão desanimador pode ser um dia destes quando estamos de férias num determinado lugar por um curto espaço de tempo.
Chegámos cedo ao nosso destino - uma viagem de 30 minutos, give or take. A chuva caia rigorosamente e a Igreja St. Mary and St. Finnan estava ainda fechada.
Não fazia diferença se estávamos à frente da igreja ou nas suas traseiras o cenário era muito similar. Chuva, uma neblina matinal que não deixa ver a distância, e frio. Por isso, aconselho vivamente a trazer duas coisas consigo numa viagem à Escócia independentemente da estação do ano. Botas de montanha (check) que não se molham com facilidade e que oferecem segurança para as caminhadas mais exigentes e um corta-vento e/ou impermeável (check) que o impedirão de sentir o frio e de ficar molhado (check and check).
Segundo a dono da carrinha estacionada ao lado da igreja que vendia bebidas quentes e doces variados, a igreja abriria talvez mais tarde hoje, mais tarde do que anunciado no site. Do outro lado da estrada, mora quem tem a chave da igreja e talvez por causa do dia cinzento e pouco convidativo a igreja abrisse mais tarde ou pelo menos as horas indicadas para abertura são mera sugestão.
De qualquer maneira estava frio e a chuva caia persistentemente e ainda tentámos esperar para ver se abriria à horas mas a chuva não dava tréguas e como se pode ver na foto não havia muito sítios onde ficar abrigados ou por baixo das copas das árvores (onde estou) ou tentando que alguma parte da igreja nos desse abrigo (impossível, como não transparece na foto, mas impossível, acreditem que a chuva caia obliquamente e molhava-nos a cara).
Por isso, estacionamos junto ao Glenfinnan Visitor Centre, a umas dezenas de metros abaixo. Mais um estacionamento pago. Chovia ainda quando saimos do carro e o Visitor Centre ainda não estava aberto - abria dali a uma hora e faltavam ainda 2 horas para podermos apreciar o comboio do Harry Potter. Entre ficar no carro a olhar a chuva cair e explorar as redondezas à chuva, claro que optámos pela segunda alternativa. Afinal a chuva tinha diminuído. O Glenfinnan Monument é mesmo do outro lado da estrada e tanto do parque como do Visitor Centre consegue vê-lo facilmente. Chovia quando caminhámos até lá - 3 minutos de uma caminhada molhada. A chuva e a neblina teimavam em não nos deixar mas a experiência foi interessante na mesma.
A vista do lago ficou apenas mais misteriosa e eerie. O que é bom também. A foto ficou fantástica.
Versão instagram (mas sem filtros).
Versão real (também sem filtros). Afinal era penas um chuvinha molha-tolos. Who's the fool?
No regresso, a chuva já não caia e antes mesmo de cruzarmos a estrada há uma passadiço em madeira que se embrenha misteriosamente pela floresta. Uau! Decidimos seguir o passadiço (obviously), sem saber bem onde iríamos. Este percurso não estava planeado. São talvez 1000 metros que o levam por uma floresta que se adensa à medida que avançamos. Leva-nos até uma ponte sobre o lago e uma espécie de monumento a algo.
A chuva parara e quando regressamos ao Visitor Centre ainda tínhamos alguns minutos de espera para que abrisse. Aqui encontra uma loja com muitos souvenirs interessantes e com casas de banho e talvez um amiguinho.
Neste lugar pode explorar dois miradouros: o Glenfinnan Viewpoint a poucos metros do Visitor Centre, num caminho à direita à saída do edifício que em menos de 10 minutos o levará uma posição elevada que lhe permitirá ver o Glenfinnan Monument e o lago mas também a ponte do famoso do famoso comboio do filme de Harry Potter;
o outro, o ponto onde todos estarão aquando da passagem do comboio, o Glenfinnan Trail viewpoint, que no Googlemaps aparece como bridge view.
Aconselho a visitar os dois mas se quiser as fotos fantásticas do instagram então não se esqueça de estar à hora certa neste segundo ponto. Uma caminhada de um pouco mais de 15 minutos leva-o lá. O terreno apesar de ter alguma inclinação é propício aos menos aptos (muitas crianças encontravam-se por lá) mas a chuva torna-lo-á lamacento e escorregadio. Uma vez lá em cima, escolha a melhor posição para as suas fotos/vídeos e aguarde pacientemente por algo que acabará em menos de 2 minutos. No entanto, vale a pena. Muito mais para os fãs do universo de Harry Potter.
As botas de montanha e o corta-vento impermeável deram um jeitão. Não foi preciso guarda-chuva. Anyway, quem é que vai de férias com guarda-chuva?
Não se esqueça de tirar uma foto a todos os "peregrinos" que esperam com olhos postos na ponte e ouvidos à escuta.
O primeiro sinal de aproximação é um sinal sonoro e depois um vislumbre do fumo saindo da chaminé. O maquinista apita na passagem, os passageiros das carruagens acenam e nós tiramos fotografias. E quando damos por ela, já passou.
A minha foto preferida de toda a viagem (talvez).
No regresso veja se avista um veado.
Depois da passagem do místico comboio, tempo para visitar finalmente a igreja que estava fechada no início desta aventura. St. Mary and St. Finnan é uma igreja bonita por fora mas por dentro ficará um pouco decepcionado.
De regresso ao parque com as nossas vestimentas um pouco molhadas (umas mais do que outras) voltamos ao plano. Seguir em direção ao Castelo Eilean Donan, passando pelas 5 irmãs de Kintail, 5 montanhas. A chuva surgia por vezes e voltava a desaparecer. O cenário era bonito
e por vezes viam-se turistas a admirar a paisagem, quase imperceptíveis no meio da vegetação.
A chuva teimava em voltar.
O nevoeiro adensava-se à medida que nos embrenhávamos nas montanhas e mesmo antes de fazer o curto desvio até Bealach Ratagai Viewpoint já suspeitávamos que não iríamos ter sorte.
Subimos a estreita estrada até ao miradouro
e estacionamos em frente ao banco, no pequeno parque de estacionamento. As nuvens movimentavam-se rapidamente e parecia que estavam a desaparecer. Aguardamos.
Restabelecemos os nossos níveis de energia com uma refeição rápida enquanto observavamos as nuvens. Esperamos demasiado tempo. Enquanto almoçávamos as nuvens dissiparam-se e por uns breves segundos as 5 irmãs tornaram-se visíveis. Mas quando saímos do carro para as fotografar elas timidamente se esconderam novamente.
Fica aqui o registo possível.
Para voltar ao trajeto em direção ao castelo descemos a estreita estrada. As nuvens por aqui estavam mais dissipadas e algumas das irmãs apresentaram-se.
20 minutos depois, 16 km de viagem, estávamos já a estacionar junto ao castelo. Este castelo tem um parque , demasiado pequeno para os visitantes. O vento, o frio e a chuva não demoveram alguns visitantes mas mesmo assim o parque estava cheio no início daquela tarde de terça-feira.
A indicação do preço do bilhete que tenho no meu plano é de 10 libras mas penso que foi mais caro. Mas vale a pena por toda a experiência. Os visitantes não podem ir com mochilas pelo que as têm que guardar no carro ou num cacifo (pago, claro).
Este castelo é emblemático pela ponte que lhe dá acesso. Infelizmente havia sempre algum turista em cima da ponte e as fotos não ficaram dignas de instagram.
No exterior tem belas vistas sobre o lago. O castelo é relativamente pequeno - logo à entrada terá umas salas com apresentações para conhecer um pouco da história e num outro piso uma série de salas com decorações mais contemporâneas.
Se quiser dar uma olhadela live pode vê-lo neste site oficial através de uma livecam eileandonancastle .
Uma vez aqui, não deixe de encontrar um miradouro um pouco mais acima do castelo, à saída do parque vire à esquerda e depois na primeira à direita e novamente na primeira à direita. Suba a estreita estrada até ver o castelo do lado direito.
A tarde ainda ia a meio quando saímos deste miradouro. O próximo ponto seria Manuela's Wee Bakery (a pequeníssima padaria da Manuela). Não estava ninguém por lá para além dos donos e naquela tarde as ofertas não eram muitas. Por isso, para tirarmos as fotos tivemos mesmo que entrar e comprar algo. O que comemos? Um bolo com uns frutos silvestres muito bom mas caro.
O sítio é giro, as casinhas são bonitas, mas é claramente um chamariz. Pare por lá e se tiver fome entre. Decerto encontrará delícias a um preço elevado. Se não tiver fome e não quiser pagar, reze para que o sítio esteja repleto de turistas para que assim passe despercebido ou seja um verdadeiro cara de pau e tire fotos sem consumir. Uma das casinhas pode fotografar do pequeno estacionamento à frente da casa.
O dia estava frio e o pequeno bolo pareceu-nos uma maravilha - mas talvez fosse a fome, ou o frio, ou mesmo o cansaço. Afinal este já era o nosso sexto dia. E não iríamos descansar ao sétimo dia.
Termino esta longa carta com a última foto do dia: a foto da janela do B&b em Kyle of Lochalsh, com vista para a inacreditável Isle of Skye. A foto que alia uma bela e serena paisagem a uma quente e reconfortante chávena de chá e que permite ao corpo cansado deixar que a seja a mente agora a percorrer uma longa mas muito rica viagem.
P.S. Ao longo do dia tivemos vento e chuva e algum frio - para um dia de verão - pelo que julgo mesmo vital preparar-se com roupas para diferentes temperaturas/estações. Quanto a restauração, muito do nosso trajeto é feito por estradas em que só temos mesmo montanha e nem sempre passamos por uma localidade a horas apropriadas para fazer a refeição. Por isso, antecipando essa situação grande parte dos nossos almoços foram comprados previamente para poder almoçar no local que estamos a visitar, seja ele no meio de uma vila ou no meio de montanhas. Isto é imperativo se não quiser perder tempo precioso com a procura de um restaurante com vagas e o habitual tempo para realizar a refeição e se não se importar em fazer refeições ligeiras. Terá mais tempo que pode aproveitar para ver mais sítios e também poupa em termos monetários. Como chegávamos sempre cedo aos locais onde iríamos dormir, hotéis ou B&Bs ou apartamentos, o jantar era a refeição que fazíamos num restaurante. No entanto, apesar de chegarmos cedo ao local de descanso, contrariamente ao que aconteceu na Irlanda, optamos muitas vezes por jantar por casa.Por vezes o cansaço assim o pedia, por vezes a casa convidava a ficar - a melhor vista ainda está para vir.