Irlanda, P.S. I love you
Caro Leitor,
Por vezes os sonhos concretizam-se. Umas vezes, a sorte cruza-se no nosso caminho e os sonhos realizam-se com aparente facilidade. Outras vezes, levam anos a concretizar-se. Este ano concretizei um que tinha 20 anos. (Maybe it's all downhill from here).
Fiz a viagem que tanto sonhara. Viajei até à Irlanda, numa viagem de verdadeiro viajante (And I wouldn't have it any other way). 10 dias numa viagem à descoberta da Irlanda pelas estreitas estradas verdejantes. 2000 km de carro e quase 1/10 disso a pé. 10 condados explorados (Dublin - Wicklow - Laois - Killkenny - Tipperary - Cork - Kerry - Limerick - Clare - Galway) e mais alguns atravessados. Grande parte da Wild Atlantic Way percorrida. Uma viagem de sonho. Com uma companhia fantástica. Um sonho de viagem. Uma viagem que me fará sonhar por muitos mais anos. Trouxe desta viagem uma mala cheia prendinhas, uma coração cheio de emoções, sensações e histórias para contar. Trouxe de lá tudo, só não veio o irlandês.
Foi uma viagem plena, com quase todas as experiências clichés: a estreita estrada entupida com ovelhas e a viajante que tem que esperar para que elas possam passar; as quatro estações vivenciadas num só dia; a simpatia local em inúmeras situações (a viajante que chega demasiado tarde ao alojamento sem ter sequer jantado e a senhora do bed and breakfast que telefona para o pub local para preparar algo para o jantar), os diferentes sotaques das regiões irlandesas, o bafo da sorte irlandesa (the luck o' the Irish) em tantas situações, a música e a experiência dos pubs, a vontade de permanecer ali para sempre, a paixão arrebatada por (pelo menos) um lugar, a deliciosa e inesperada experiência gastronómica nos sítios mais inusitados e é claro a experiência atribulada, ainda que menos do que se possa imaginar, de conduzir na faixa da esquerda. Faltou só mesmo o arco-íris no céu irlandês, com ou sem pote de ouro no final.
E tudo isto, bem temperado com Whiskey in the jar em todo o lado por onde passávamos. É uma música cujo refrão fica na cabeça - se bem que nem tudo no refrão se perceba, sem ler com atenção a letra.
Refletindo agora que já passaram quase tantos dias quantos os da viagem, se calhar o amor veio noutra forma. Não trouxe o amor na forma de um irlandês. Trouxe o amor na forma de um país, de um povo, de um modo de vida.
P.S. I love you, Ireland!