São Miguel, Açores - impressões gerais
Caro leitor,
A minha viagem de sonho é à Irlanda. O meu sonho é percorrer as estradas desertas entre montes verdejantes, onde a paisagem parece igual ao olhar menos atento, onde o dia nos presenteia com as 4 estações do ano e no final dessa estrada que serpenteia por entre as montanhas verdes, encontrar uma surpresa: uma vila pitoresca e pacata, um penhasco perigosamente belo, um castelo cujas ruínas cederam à dominadora vegetação bravia, ou um pote de ouro no fim do arco-íris (ver folclore irlandês). É uma viagem de sonho, daquelas que não temos a certeza se algum dia realizaremos.
O mais perto desta paisagem irlandesa no nosso país é, para mim, o arquipélago dos Açores. Nestas férias de verão, aventurei-me até à ilha de São Miguel. Há algum tempo debaixo de olho, a visita não podia ser mais adiada agora que temos viagens low-cost para lá.
São Miguel é a ilha do verde. Apesar de por toda a ilha reinar o azul das hidrângeas (vulgarmente conhecidas por hortênsias), que salpica os diferentes tons de verde da vegetação que a ilha oferece, e apesar do contraste entre o azul e branco do mar e o negro do basalto da costa ter uma forte presença na ilha. Esta é sem dúvida a ilha verde e a cor que lhe foi atribuída não podia ser melhor. Aqui encontramos todos os tons de verde e nesta imensidão de verde é fácil a contemplação. As estradas por entre os montes verdejantes parecem fazer parte de um jardim privado. As sebes de hidrângeas que ladeiam as ruas, que timidamente serpenteiam por entre os montes verdejantes, surgem perfeitamente arranjadas, como se fizessem parte de um grande jardim. Até nos sítios mais remotos se podem admirar estas flores e sua posição parece ter sido escolhida a dedo.
É também a ilha das lagoas formadas em crateras de vulcões, profundas ou rasas, de água doce ou salgada, de um verde ou azul intenso, ou de uma mescla de tons azulados, rodeadas, à exceção da lagoa de água salgada no ilhéu de Vila Franca do Campo, pela vegetação verdejante. Umas mais misteriosas do que outras, umas mais inacessíveis que outras, umas mais calmas que outras, mas todas elas belas e merecedoras de uma visita. Fiz questão de ver oito delas, as maiores, as mais belas, mais aliciantes para o turista comum.
É ainda a ilha dos miradouros e dos parques de merendas e grande parte do meu plano de viagem foi pensado tendo em conta estes miradouros, alguns dos quais inseridos em belíssimos jardins e com vistas espetaculares. Impensável visitar São Miguel sem nos demorarmos por alguns destes miradouros. Muitos deles surgirão quando menos esperarmos ora indicados numa placa que quase passará despercebida ou mesmo na berma da estrada.
São Miguel é ainda a ilha das vaquinhas felizes, criadas ao ar livre, alimentadas à base de erva fresca, durante todo o ano, para conferir ao leite e seus derivados um sabor único. É a ilha das plantações (a de ananás e de chá são as que são mais notórias, mas não devemos esquecer as do tabaco e as de inhame) e a ilha das igrejas pintadas a branco com linhas negras com surpreendentes altares no interior. É a ilha dos jardins. É a ilha de pequenos recantos escondidos, muitos dos quais assim permanecerão para a maior parte dos turistas. É uma ilha perfeita para combater o stress (não sei se de acordo com a cromoterapia a cor verde possui estas capacidades terapêuticas, mas deveria.). É a ilha perfeita para o turismo de natureza, seja o leitor um hiker experiente, um aventureiro destemido, ou um simples apaixonado pela natureza. É a ilha perfeita para nos embrenharmos na natureza e nela nos perdermos momentaneamente. Há imensos percursos pedestres a fazer que ora nos levam a praias remotas ou ao ponto mais alto da ilha. Há muito por onde nos perdermos...
Aqui ficam uns versos da letra de Lonesome Dreams, dos Lord Huron, perfeita para a minha experiência na ilha.
"I land on an island coast (...)
I run through wooded isle
And chase the sunlight mile after mile
And I feel like I know this place
As a tree line breaks in a wide open space
I stare at a bright red sun
And search all day, never find anyone
I walk on a winding road
In the deep of the night
near the edge of the knoll
I pass by a moonlit lake (...)
And I feel I should know this place
As a road winds on in a wide open space (...)
I been dreaming again of a lonesome road
Where I'm lost and I've got no friends
Just the rocks and the trees
And my lonesome dreams
And a road that'll never end (...)
And the seasons change in the blink of an eye
But I don't really know this place
And it's lonesome here in a wide open space
Can it be as real as it seems
Maybe this time I won't wake from the dream"