Viagens: Prólogo
Caro leitor,
Enquanto ser humano em busca de algo inatingível, eu viro-me para as viagens. Curtas ou longas, low-cost ou não tão low-cost (até à data não tenho planos para nenhuma high-cost - ainda não ganhei o euromilhões), a sítios inimagináveis em mim ou a sítios presentes nos meus sonhos.
Quando me debruço sobre esta carta, constato que a viagem não é algo novo para mim. Estava quase a afirmar que tudo começou com uma viagem de interrail (note to self: carta sobre a aventura interrail num futuro próximo). Mas na verdade, sempre fui uma viajante. Desde tenra idade que me lembro de fins de semana, férias festivas e escolares, passadas na terra dos meus pais, aldeia literalmente nas margens do Douro vinhateiro. Mas o que me recordo mais são as viagens efetuadas entre o ponto de partida e o ponto de chegada. Inicialmente de comboio e de barco, e depois de carro. Nessas viagens físicas deixava-me levar numa outra viagem. A da imaginação. Numa primeira instância, esta viagem tinha como pano de fundo a paisagem acelerada e filtrada por uma janela de um comboio. A viagem da imaginação dava os primeiros passos, ao som e ao ritmo do comboio, interrompida por vezes pelas brincadeiras de crianças.
Mais tarde, a viagem física passa a fazer-se de carro, com banda sonora sempre presente. Repertório bastante diversificado e que se estendia desde os anos 50 até aos 80, desde a França até a Inglaterra, desde a Espanha até a Itália, desde os distantes E.U.A. até à Suécia, ou até mesmo à Grécia (Kalimera e Oikos para todos os leitores gregos). E é esta banda sonora e a paisagem fugidia que vislumbrava da janela do carro do meu pai que despoleta uma viagem da imaginação sem precedentes. O mote era dado pela música e aí partia eu para mundos semelhantes ao meu, mas para vivenciar experiências distintas. Podia estar a ser conduzida na viagem física, mas na viagem da imaginação era eu quem tinha mão nas rédeas.
Ainda hoje existe em mim, sempre a par da viagem física, uma viagem da imaginação. Antes mesmo de partir na viagem física, já a viagem da imaginação se iniciou. Na pesquisa de informação relativamente ao destino que nunca deixo de fazer, na ansiedade miudinha que se infiltra em mim, na antevisão que teimo em fazer, e nos sonhos que se apoderam de mim.
Antes da viagem, existe em mim um prólogo.