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Letters and words

Letters and words

Vou ali e venho já...

Caro Leitor,

Se há quem vá até Paris para tomar o pequeno-almoço, por que razão não posso ir eu à Alemanha ver um castelo, ou dois?

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FEVEREIRO 10 a 13

Sábado - voo para Nuremberga com chegada por volta das 20 horas. Comboio até Munique e chegada ao quarto de hotel por volta das 23 horas, não antes de tentar abrir a porta errada de um outro quarto - not my fault.


Domingo - comboio às 5 horas da manhã - sim leu bem - para Fussen. A manhã acordava lentamente, ao ritmo do comboio, e a antecipação ia rasgando o ar quente do comboio. Lá fora, resquícios de neve puxavam pela imaginação. Jack Savoretti nos ouvidos. 

Visita demorada aos castelos, com espaço para a contemplação, alguma neve, gelo no lago, frio. Muitas fotos. À despedida, a neve brindou-nos com a sua dança. Regresso a Munique com chegada por volta das 16h. Chuva estúpida que atrapalhou a deambulação pela cidade escura e fria, mas totalmente em clima carnavalesco (entenda-se por clima carnavalesco adultos com cabeleiras postiças coloridas, encostados a bancas/roulotes animadas por música pseudo-carnavalesca - as bancas/roulotes, não as pessoas - essas estavam animadas pelo álcool que iam bebendo ao som dos hits populares. Errar pelas ruas rumo a um sítio quente. Errar. Encontrar um sítio quente mas frio. Contradição?

 

Segunda - acordar cedo para apanhar o comboio e o autocarro até Dachau. (Alguém terá apanhado algo mais, sem intenção alegadamente - again, not me!) Encontrar o 1º campo de concentração nazi alemão vazio, e imaginá-lo repleto. Emoções. Caminhar pela praça central, ladeada agora de árvores que ainda que despidas aquecem o lugar. Caminhar e levar a imaginação acorrentada. Pensamentos que se libertam sem permissão. Mini filmes saem da tela sobre os meus ombros. Cerro os olhos, como eles. Cerro para ver. Eles cerrá-los-iam para não ver. Humilhação. Temor. Dúvida. Certeza. Dormitórios solarentos que à luz de uma manhã de 2018 ganham tons quentes. Arame farpado impede a ação. Caminhar por entre um arvoredo e desembocar num largo ensolarado.  Uma simpática casa espera-nos e a chaminé, anfitriã, marca a presença. Está frio cá fora, mas lá dentro o frio nunca entrou. As salas e saletas sucedem-se, como as vidas mortas que por aqui foram passando. Salas que não são o que parecem. É preciso sair e entrar novamente para nos apercebemos do verdadeiro propósito das mesmas (também eles não se terão apercebido). Nós ainda temos a oportunidade de sair.

Nada como umas bolachinhas caseiras de aveia e chocolate para limpar a alma...

Partida para Nuremberga e chegada ao hotel por volta das 15 horas, depois de percorrer 2 km com tróleis e neve, muita neve. Deambulação pela cidade no interior das muralhas. Capuccino. Apaixonar-me pela cidade quase deserta. Sentir o frio na cara, mas não no coração. Comprar presentes de fazer inveja a Magritte. Colocar aqui uma imagem do presente só se fosse com a descrição "Ceci n'est pas une pipe."

Salsichas para o jantar.  

 

Terça - Acordar cedo. Ver o que não foi visto, fazer o que ainda não foi feito, como diria o poeta Abrunhosa.
Deambular pela cidade, de trolley na mão, esperar pela abertura de algo que não abrirá, tomando uns cappuccinos. Que nos aqueçam estes a alma, que nos encham estes o estômago já que a visita à catedral não o fará.  Terca-feira gorda mas não será para nós. A catedral está fechada. O dia arrasta-se calmo pelo centro da cidade. Pudera! É terça-feira gorda, afinal. Nós arrastamo-nos também, mais gordas ou não, não sei, mas mais pesadas. Levamos a bagagem na mão e no coração. Desta última não nos queixamos. As saudades espreitam e ainda não partimos. A despedida é sempre amarga e não há tempo para morder um lebkuchen. Há sabores que se saboreiam na chegada.

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